Em moção apresentada na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), o deputado Robinson Almeida (PT) classificou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como “persona non grata” no estado. A iniciativa ocorre em meio ao agravamento das tensões comerciais entre Brasil e EUA e à tentativa de ingerência política do governo americano no processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e participantes dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.
Para Robinson, a postura de Trump representa uma afronta à soberania nacional e uma tentativa de intimidar o Brasil por meio de medidas econômicas unilaterais, como a taxação de 50% sobre produtos brasileiros exportados para os EUA.
“Trump não é o imperador do mundo. O Brasil é um país soberano, que expulsou definitivamente os portugueses da Bahia em 2 de Julho de 1823. A alma brasileira é de liberdade, democracia e justiça. Nosso país não é, nem será, colônia dos EUA”, enfatizou o deputado, evocando os versos do Hino ao 2 de Julho: “com tiranos não combinam brasileiros corações”.
O parlamentar também criticou a atuação da família Bolsonaro nos EUA “contra a soberania brasileira”, apontando os prejuízos econômicos que podem ser causados à Bahia, especialmente. De acordo com relatório da Assessoria Econômica do Sistema Faeb/Senar, o estado exportou mais de R$ 302 milhões em produtos agropecuários para os Estados Unidos em junho de 2025.
“É inaceitável que o Brasil, que tanto contribui para a segurança alimentar do mundo e para a transição energética global, seja atacado com tarifas injustas e abusivas. A Bahia, em especial, sofre com essa política predatória, pois nosso estado é um grande exportador de celulose, frutas e químicos, entre outros setores que já sentem os efeitos da retração. Se Trump sonha em ser imperador global, a família Bolsonaro, sem dúvidas, entrou para a história como traidora da pátria ao jogar, explicitamente, contra o Brasil e o povo brasileiro”, declarou.
Prejuízos para a Bahia
Dados da Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia (SDE) apresentados por Robinson indicam que, em 2024, os EUA foram o segundo maior destino das exportações baianas, com aproximadamente US$ 1,7 bilhão em negócios, principalmente nos setores de papel e celulose, petroquímicos e frutas.
A nova tarifação pode provocar uma queda de até 25% nas exportações desses produtos, segundo estimativas da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), gerando risco de desemprego e perda de competitividade para as empresas baianas. No cenário nacional, acrescentou ele, o impacto da medida pode representar uma retração de até R$ 18 bilhões nas exportações brasileiras para os EUA, afetando diretamente a balança comercial e o crescimento do PIB industrial.
“Na prática, Trump se comporta como ditador, e sua postura desrespeitosa à democracia e à soberania de outros países, como o Brasil, causa impactos na economia mundial, com forte repercussão recessiva e aumento do desemprego”, analisou.
Outro ponto abordado pelo autor da moção foi a tentativa do governo Trump de interferir nos processos em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), relacionados à inelegibilidade e à possível prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro. O deputado considera a movimentação americana uma afronta às instituições brasileiras.
“O Brasil é uma república independente. Nossa Justiça não pode ser pautada por interesses estrangeiros. A tentativa de influenciar o julgamento de Bolsonaro e dos golpistas do 8 de janeiro é mais um sinal de que Trump não respeita a soberania dos povos. Mas aqui, quem manda é o povo brasileiro”, afirmou.
Para Robinson, a moção apresentada na ALBA é um gesto simbólico, mas com peso histórico. “Em 1823, foi daqui que expulsamos o último reduto da colonização portuguesa em território brasileiro. Hoje, novamente, a Bahia dá o exemplo de resistência e dignidade, reafirmando nosso compromisso com a soberania nacional e a liberdade do povo brasileiro”, concluiu.