Imagine poder consultar todo o todo o patrimônio cultural imaterial do Brasil reunido em um só clique? Agora isso é possível, com a plataforma Bem Brasileiro, lançada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O lançamento aconteceu em um evento apresentado para a sociedade na tarde desta quarta-feira (8), na sede do órgão, em Brasília (DF).
O Bem Brasileiro reúne um acervo com mais de 2 mil itens – entre fotos, vídeos, documentos e publicações – sobre todos os bens imateriais registrados pelo Iphan como Patrimônio Cultural do Brasil, desde que essa categoria de reconhecimento foi criada, há exatos 25 anos.
Desenvolvida pelo Iphan em parceria com o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) e o Laboratório de Inteligência de Redes da Faculdade de Ciências da Informação da Universidade de Brasília (FCI/UnB), a plataforma facilita o acesso a informações relacionadas ao Patrimônio Imaterial do País. Estão lá desde os pedidos de registro e pareceres elaborados no processo de reconhecimento de um bem cultural até as ações de monitoramento e salvaguarda que o Iphan desenvolve após esse reconhecimento, como parte da sua missão de proteger e promover o patrimônio cultural brasileiro. Tudo com interface intuitiva e linguagem simples, acessível para qualquer pessoa interessada no tema.
“A plataforma vai facilitar o engajamento dos cidadãos na salvaguarda e preservação das tradições de suas comunidades. Isso pode dinamizar muito a promoção do nosso patrimônio, que é uma riqueza nossa.” Leandro Grass, presidente do Iphan
Contando com a presença de gestores e técnicos do Iphan e da equipe de profissionais envolvidos no desenvolvimento da plataforma, a cerimônia serviu como oportunidade para debates e reflexões sobre novas tecnologias e a importância da transparência de dados na relação entre o Estado e o cidadão.
“A gama de usuários do Bem Brasileiro é grande e inclui pesquisadores, quem precisa de acompanhamento de processos em andamento, estudantes e os próprios detentores do Patrimônio Imaterial, que passaram a buscar muito por informações diversas e ali conseguem se ver”, afirmou o diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan, Deyvesson Gusmão.
Já a assessora de comunicação da Reitoria da Universidade de Brasília, Daniela Fávaro, ressaltou o orgulho da instituição em participar do projeto. “A UnB se orgulha de participar desta plataforma que expressa um diálogo entre a cultura, a academia e o cidadão. É a possibilidade de cruzar dados que fortalece as políticas públicas”, disse a assessora. “[A nova plataforma] é herança e futuro ao mesmo tempo.”
Ferramenta para pesquisadores
Com diversas opções de filtro de busca, a plataforma Bem Brasileiro permite ao usuário fazer pesquisas específicas por estados, datas de registro, temas (tais como “cultura alimentar”, “catolicismo popular” ou “povos de terreiro e de matriz africana”) ou por Livros de Registro – os arquivos oficiais nos quais o Iphan inscreve um bem de natureza imaterial como Patrimônio Cultural. São quatro arquivos: o Livro dos Saberes; o das Celebrações; o das Formas de Expressão; e o dos Lugares. (A título de comparação, bens de natureza material são inscritos em Livros do Tombo, de onde vem o termo “tombamento”, para o seu reconhecimento pelo Iphan.)
Também ficou fácil cruzar buscas sobre bens que compartilham atributos em comum. Em poucos cliques, por exemplo, uma pesquisa sobre a Cachoeira do Iauaretê – lugar sagrado dos povos dos rios Uaupés e Papuri – pode levar a outros bens registrados no estado do Amazonas, ou relativos a povos indígenas, ou que também estejam inscritos no Livro dos Lugares, como a Feira de Caruaru (PE) e a Feira de Campina Grande (PB).
A plataforma ainda traz uma relação de agentes dedicados aos bens que constituem o Patrimônio Imaterial nos diversos territórios do País, como mestres, grupos culturais e organizações parceiras do Iphan na preservação e promoção desse patrimônio, com seus respectivos meios de contato. “Queremos sempre frisar que a salvaguarda do patrimônio imaterial é uma responsabilidade compartilhada por todas as esferas do poder público e pela sociedade civil”, diz Deyvesson Gusmão.
Patrimônio que aponta para o futuro
Outra novidade da plataforma é relacionar cada bem registrado a Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), as metas globais definidas pela Organização das Nações Unidas para a construção de um mundo mais justo, inclusivo e ambientalmente equilibrado. A ideia é evidenciar que a preservação de saberes e práticas constituintes do patrimônio cultural brasileiro, longe de comprometer o desenvolvimento de uma nação, pode justamente contribuir para a solução de alguns dos maiores desafios socioeconômicos e ambientais da atualidade.
“Entre os bens registrados pelo Iphan como patrimônio cultural, por exemplo, a gente tem os sistemas agrícolas tradicionais dos povos do Rio Negro, no Amazonas, e das comunidades quilombolas do Vale do Ribeira – demonstrações concretas do que é sustentabilidade e de como a nossa ancestralidade pode apontar para o futuro”, diz o presidente do Iphan, Leandro Grass. Constituídos por técnicas de cultivo que, ao longo do tempo, vêm contribuindo para a preservação e o enriquecimento dos ecossistemas onde são aplicados, os dois sistemas agrícolas aparecem na plataforma do Iphan associados, por exemplo, aos ODS 2 (Fome Zero e Agricultura Sustentável) e 13 (Ação Contra a Mudança Global do Clima), entre outros.
Para o presidente, a plataforma tem potencial para ser ainda mais relevante à medida que integrar outros repositórios do Instituto, como listas de bens materiais tombados ou de sítios arqueológicos cadastrados no País.
“O Patrimônio Imaterial é o primeiro passo de um projeto mais amplo, de promoção de todo o Patrimônio Cultural Brasileiro nas suas diversas tipologias”, diz Grass. “Patrimônio é tudo aquilo que conta quem nós somos como povo, seja uma igreja histórica, um terreiro, um sítio arqueológico ou o saber de uma comunidade tradicional. Enfim, tudo que é Bem Brasileiro”.