quarta-feira, 19 novembro, 2025

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Jogo ajuda crianças com câncer a entender e enfrentar o tratamento

Pesquisadores da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e do Hospital de Clínicas de Porto Alegre desenvolveram uma ferramenta inovadora para apoiar o cuidado de crianças com câncer.

Trata-se de uma escala de letramento em saúde integrada ao jogo digital “Piratas das Estrelas”, criada para avaliar e, ao mesmo tempo, promover a compreensão das crianças sobre sua condição de saúde.

A proposta une avaliação psicométrica — método da psicologia que mede habilidades, atitudes e conhecimentos de forma estruturada — e recursos pedagógicos em um formato acessível ao público infantil, especialmente a crianças com leucemia linfoide aguda (LLA).

A psicometria, campo que fundamenta essa abordagem, busca traduzir aspectos subjetivos, como compreensão e percepção, em dados mensuráveis e comparáveis.

O instrumento se baseia em quatro domínios: conhecimento sobre o câncer, tratamento e efeitos colaterais, autocuidado e hábitos saudáveis, e emoções e suporte. A escala foi incorporada ao jogo por meio de 12 perguntas objetivas e interativas, que acompanham a narrativa e o avanço das fases. Os resultados foram publicaos na Revista Brasileira de Cancerologia.

“Uma vez reunida toda a informação, tínhamos em mãos um documento muito adulto e com uma linguagem muito formal. Com o auxílio principalmente de técnicas pedagógicas, a gente fez essa adaptação da linguagem para que o público infantil entre 6 e 12 anos entendesse, utilizando metáforas que representassem e vinculassem o entendimento infantil a essa situação tão difícil. Além de, claro, integrar essas informações aos elementos avaliativos na narrativa do jogo”, explica Guilherme Kayser Prates, da UFCSPA e um dos autores do artigo.

O estudo foi conduzido entre novembro de 2024 e maio de 2025 e envolveu revisão de literatura sobre o tratamento da leucemia para identificar temas relevantes. A linguagem foi adaptada para o universo simbólico das crianças, transformando conceitos complexos em representações visuais — como as células cancerígenas, que no jogo aparecem como “monstrinhos” a serem combatidos.

O jogo foi estruturado em capítulos e minigames, cada um correspondendo a um dos domínios da escala. Assim, enquanto joga, a criança aprende sobre o câncer e o tratamento de forma lúdica, respondendo às perguntas que avaliam seu entendimento. O formato permite que a aprendizagem e a avaliação ocorram simultaneamente, em um ambiente terapêutico e educativo.

Segundo Prates, “existem diversos instrumentos, principalmente na área da psicometria, que utilizam ferramentas de letramento em saúde para a população adulta. Só não no ambiente oncológico pediátrico, o que torna a compreensão de doenças muito complexas e muito difíceis para uma criança. O nosso trabalho tem potencial de mudar a forma como o cuidado oncológico é conduzido atualmente e fazer com que a criança compreenda melhor a importância do seu tratamento”.

O letramento em saúde ajuda as crianças a compreender e usar informações sobre sua própria condição, favorecendo a tomada de decisões e o protagonismo no tratamento. Isso contribui para reduzir o sofrimento emocional, aumentar o senso de controle e melhorar a adesão ao regime terapêutico.

O próximo passo do grupo é lançar o jogo de forma gratuita nas principais plataformas digitais. Em paralelo, os pesquisadores planejam comparar resultados entre crianças que utilizam a escala e aquelas que não a utilizam, para avaliar o impacto do instrumento na compreensão e nos desfechos educacionais e de saúde.

Fonte: Agência Bori

 

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