Redescoberta há 40 anos, arara-azul-de-lear é um dos 182 animais da caatinga em risco de extinção.
Arara-azul-de-lear é foco de ações de preservação. — Foto: Marcelo Brandt/G1
O grito da arara ecoa pelo sertão da Bahia nas primeiras horas do dia. O chamado vem de uma das 1.700 araras-azuis-de-lear que vivem na região do Raso da Catarina, na caatinga, o bioma mais biodiverso do planeta. Elas só existem nesta parte do mundo. Monogâmicas, voam em duplas ou em trio, quando o filhote ainda não se desprendeu dos pais. No amanhecer, elas saem em busca do licuri, um coquinho que cresce aos cachos em palmeiras da região. Chegam a percorrer até 60 km ao dia atrás de alimento. Ao entardecer, retornam à morada.
A aparente normalidade da cena esconde um problema: a arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) está em perigo de extinção. Outros 182 animais da caatinga também estão ameaçados, como a onça-pintada e a parda, que quase desapareceram do semiárido nos últimos anos.
No caso das araras, os esforços para recuperar a população passam pela manutenção dos espaços nos quais elas vivem, pela educação ambiental e pela luta contra o tráfico de animais.
Para conhecer estas ações, o G1 percorreu 1,6 mil quilômetros no sertão da Bahia e visitou as regiões do Raso da Catarina e do Boqueirão da Onça como parte do especial “Desafio Natureza“.

Retorno de arara quase extinta na caatinga mostra os desafios da conservação de espécies
Segundo o biólogo Thiago Filadelfo, a área era palco de competições de motocross. “Nossa equipe colocou placas manuais pedindo que não houvesse trânsito nos horários mais sensíveis para as araras e conversamos com a comunidade indígena explicando para que eles agissem como protetores”, afirma.
“A recepção foi boa. Ouviram e disseram: ‘Agora quem toma conta somos nós'”, disse.
Com o fim das competições, cessaram os barulhos, e as araras começaram a voltar para a Baixa do Chico em 2014.
“Primeiro, foi um casal, depois dois, agora já tem na base de umas 100 araras já. Aqui, ninguém mexe muito com elas. A partir das 16h, essa parte [acesso ao cânion] é isolada e, graças a Deus, está dando certo”, diz o cacique Milton Santos Nascimento. “Acho que voltaram pra cá porque se agradaram do lugar, está bem cuidado”, avalia.
“É importante preservar para que não desapareçam porque, no futuro, meus netos e tataranetos vão ver estes animais”, diz Milton.
— Foto: Roberta Jaworski / G1V