Rui e Wagner: criatura e criador no passado. No presente, conflitos devidos à sucessão de 2022
Parece que não vai mesmo bem a relação entre o governador Rui Costa (PT) e o senador Jaques Wagner (PT). Em alguns círculos petistas, o relacionamento de ambos chega a ser comparado ao do hoje presidente Jair Bolsonaro (PSL) com seu ministro da Justiça, Sérgio Moro.
Em público, trocam afagos e buscam demonstrar que está tudo bem entre eles. Mas, reservadamente, convivem com um hiato em seus interesses políticos que passou do ponto de serem meramente divergentes para se tornarem, em boa medida, conflitantes.
O pano de fundo, no entanto, é o mesmo nos dois casos – as eleições de 2022. Bolsonaro tenta, de todas as formas, esvaziar seu ministro da Justiça porque sabe que ele pode ser um grande concorrente seu na sucessão presidencial daqui a três anos.
Para completar, o medo de fragilizar o filho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL), alvo de investigações desde que foi acusado de praticar a chamada rachadinha quando era deputado estadual no Rio, o opõe ao projeto de Moro de fortalecer os mecanismos de combate à corrupção.
Na Bahia, já é de conhecimento no campo do petismo que o senador Jaques Wagner quer, por uma questão de estratégia para o petismo, disputar a sucessão de Rui em 2022. Acha que esta seria a melhor forma de impedir uma desarrumação do grupo que leve à derrota para ACM Neto (DEM).
Para isso, obrigaria a que o governador, a exemplo do que fez quando jogou toda a sua força política e eleitoral para eleger Rui em 2014, levasse seu mandato no governo até o fim, abrindo mão de disputar qualquer cargo majoritário.
Mas Rui teria outros planos para si. Acha que não deve ficar na chuva ou se contentar com uma vaga de secretário num eventual e imaginário governo de Wagner. Preferiria assegurar um mandato de senador que lhe garantiria autonomia política a partir de 2022.
Para tocar o plano, gostaria de indicar como candidato à própria sucessão Otto Alencar (PSD), contra o que o PT e o PP se insurgem, o primeiro sob o argumento de que o governador sabe que o senador não teria a mesma força eleitoral de Wagner, podendo ser derrotado.
É do seio do petismo que surge a avaliação de que o plano de Rui seria, na verdade, ver o governo passar às mãos da oposição para que ele, já investido da posição de senador da República com voz e voto em Brasília, possa articular seu retorno oito anos depois.
São especulações, por óbvio. Mas são elas que embalam agora as mesas de restaurantes do Shopping Salvador, do Pelourinho, da Marina ou de Itapuã em que, eventualmente, os companheiros se encontram para falar da vida e do cenário político nacional e baiano.