O PP, do vice-governador João Leão, deve permanecer no governo Rui Costa, mesmo com a possível filiação do presidente Jair Bolsonaro ao partido. A avaliação é do deputado estadual Eduardo Salles (PP), para quem o cenário nacional é independente do estadual. “O PP tem independência”, afirma. Nesta entrevista, também transmitida pela TV Alba, Salles, que é agrônomo e mestre em engenharia agrícola, fala ainda da importância da agropecuária na Bahia e garante: “temos que cuidar cada dia mais da ADAB, agência que garante a sanidade e a fitossanidade do setor”.
Como o senhor avalia políticas públicas do governo Rui Costa para a agropecuária?
A agropecuária baiana tem se mostrado para o mundo com a sua competitividade, produtividade e qualidade. Aqui se produz de tudo. Temos cacau, café, grãos como um todo, pecuária de corte, de leite. Somos o maior rebanho de caprinos e ovinos. Temos os melhores cafés e a maior produtividade de algodão do mundo. Eu tive a oportunidade de estar secretário de Agricultura e a gente cuidou de cada cadeia produtiva. Começamos, por exemplo, um projeto com 15 produtores de morango em Mucugê, Barra da Estiva e Ibicoara. Hoje são três mil produtores que geram milhares de empregos na Chapada Diamantina, região de Barra do Choça e próximo a Vitória da Conquista. Tivemos um projeto pioneiro de produção de uvas em Morro do Chapéu e em Mucugê, e hoje são várias vinícolas na região. Temos visto avanço em diversas áreas da agropecuária, notadamente na agricultura familiar.
Para o semiárido baiano, por exemplo, quais condições o governo oferece para que os agricultores plantem, colham e vendam de forma satisfatória?
O povo na Bahia não é associativista e cooperativista e isso dificulta muito o avanço em diversos segmentos, principalmente no semiárido. Mas temos avançado com a agroindustrialização. Em Uauá, por exemplo, fazemos até cerveja de umbu. Aprovamos um empréstimo do Banco Mundial e já são R$ 2 bilhões investidos na agricultura familiar, notadamente na agroindustrialização e comercialização dos produtos. E vamos avançar mais, porque estamos estruturando associações e cooperativas.
Produtores do Sul do estado reclamam de pragas como a monilíase do cacaueiro, que tem potencial de destruição maior do que da vassoura-de-bruxa. Qual tem sido o seu empenho para diminuir o impacto dessas pragas?
Depois da vassoura-de-bruxa, que causou um dano econômico e social muito grande no Sul da Bahia, já temíamos essa outra doença, que não existia no Brasil. Como secretário, fizemos protocolos de cooperação técnica para que essa praga demorasse mais de chegar à Bahia. Como deputado, estamos trabalhando com a Adab [Agência de Defesa Agropecuária da Bahia] e o Ministério da Agricultura para que essa praga não cause tantos danos como a vassoura-de-bruxa causou. E temos outras doenças como a crosta negra dos seringais, que tem afetado a produção de borracha no Baixo Sul. Tivemos reuniões na Secretaria de Agricultura para diminuir o impacto dessas pragas na Bahia. Temos que cuidar cada dia mais da Adab, que é quem garante a sanidade e a fitossanidade a toda agropecuária baiana.
O senhor já foi presidente da Associação dos Produtores de Café da Bahia por dois mandatos. Como avalia o potencial e dificuldades dessa cultura no estado?
Eu botei um lema quando fui presidente da Assocafé: não queríamos ser os maiores, mas os melhores. Criamos o Concurso de Qualidade Cafés da Bahia e descobrimos cafés de altíssima qualidade, notadamente na Chapada Diamantina e região de Barra do Choça. O café de Piatã, por exemplo, hoje é vendido por três vezes o preço do mercado. Quando os degustadores provaram, notaram que aquele café, que está a 1.400 metros de altitude, agrega os açúcares da casca ao grão e dá um sabor diferenciado em todo mundo. Ibicoara, na Chapada, é outro exemplo. O café que era tomado no Vaticano, não sei se ainda continua, é um café de Ibicoara. A gente tem muito orgulho da cafeicultura baiana. Não é a maior, mas é uma das melhores do mundo em qualidade.
O senhor teve um projeto de lei aprovado há seis anos pela Assembleia Legislativa que regulamenta as vaquejadas e cavalgadas. Quais os ganhos de lá pra cá com a realização desses eventos?
Grande parte dos municípios baianos tem a economia voltada para eventos ligados à cultura do povo, como as vaquejadas e cavalgadas. As vaquejadas, por exemplo, começaram na região do sertão. Os vaqueiros corriam pela caatinga e derrubavam os bois pra fazer o trato deles. E nós precisávamos avançar, não só nas questões culturais mas também para dar melhores condições para os vaqueiros e os animais. As vaquejadas geram 700 mil empregos em todo o Nordeste. Nós nos sentamos com o conselho de veterinária, vaqueiros, para dizer como faríamos um evento melhor, de forma que a gente protegesse mais os animais e pudesse ter um esporte com sustentabilidade. Definimos regras para uma condição melhor de trato. Aumentamos o que chamamos de colchão de areia para que o animal, quando derrubado, tivesse menos danos. Colocamos um protetor de cauda. Às vezes, a ponta da cauda do boi se quebrava. Não permitimos o sangramento de animais. Nossa lei foi copiada depois por outros estados e até a nível federal.
O senhor é idealizador e presidente da Frente Parlamentar do Setor Produtivo. Quais as principais ações realizadas pela frente e como ela tem ajudado na geração de empregos?
Foi no meu primeiro mandado. A gente criou a Frente Parlamentar da Micro, Pequena e Média Empresa. E qual era o objetivo maior? A geração de emprego. A gente criou um conselho consultivo em que participam as federações, os agentes financeiros, e começamos a discutir os problemas que afetam quem quer gerar emprego. Durante a pandemia, vimos que tínhamos uma obrigação muito maior. Fomos às usinas de álcool e conseguimos milhares de litros de álcool em gel que foram doados a hospitais e municípios. Fomos à Associação Baiana dos Produtores de Algodão. Recebemos a doação de milhares de metros de tecidos e elástico e conseguimos produzir máscaras que também foram doadas. Conseguimos com uma empresa de colchões a doação de mil colchões para hospitais de campanha. Começamos a fazer um grande mutirão. E os empresários foram sensíveis. Tivemos outras ações importantes. Com a melhora da pandemia, os bares e restaurantes puderam abrir até as 19 horas, mas não dava pra servir um jantar. E fomos junto com eles tentar convencer os secretários e o governador da importância de terem duas horas a mais, para não deixar que o desemprego de 30 mil pessoas que trabalhavam nos bares e restaurantes acontecesse. Trabalhamos também com os hotéis. Vimos que o gás era um insumo muito caro, que podia ser reduzido, e entramos com a Bahiagás e com a Agerba [Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia], pedindo uma tarifa especial para os bares, restaurantes e hotéis. Queríamos minimizar os problemas daqueles micro, pequenos e médios empresários.
Também é de sua autoria a iniciativa de instalação de aparelhos de ar-condicionado em escolas de municípios que o senhor representa. Como vem se dando essa ação?
Há três anos venho colocando grande parte das minhas emendas parlamentares nos colégios estaduais dos municípios que represento. Uma vez, em Bom Jesus da Lapa, estávamos visitando um colégio e fazia 44 graus. Dentro das salas era perto de 50. Vimos que os estudantes, pingando de suor, não tinham condição de estudar. Os professores não tinham como lecionar bem. E começamos ali. Pegamos a Escola Luiz Eduardo Magalhães e, por meio de emenda parlamentar, colocamos ar condicionado nas salas. Depois, coloquei em outras escolas estaduais. Neste mês, estamos colocando em dez municípios 120 aparelhos de ar-condicionado. Até o fim do meu mandato, vamos ter ar-condicionado nas salas de aula de colégios estaduais de quase todos os municípios que represento. Fui pioneiro nesse sentido e sinto muito orgulho. Temos muito a fazer pela educação na Bahia.
Sobre política, como o senhor avalia a possibilidade de o presidente Jair Bolsonaro se filiar ao PP, seu partido, que compõe a base de apoio do governador Rui Costa, opositor ferrenho do presidente?
Como líder da bancada do Progressistas, estamos sempre discutindo esses assuntos. O Progressistas não é um partido ideológico. Eu vim da iniciativa privada com o objetivo, justamente, de tentar fazer uma política diferente. E tenho visto na política modelos diferentes. O do PP é um modelo que veio e entrou no governo há 14 anos. Nós, naquela altura, não estávamos com o PT. Fomos convidados a vir quando houve o rompimento do [ex-ministro] Geddel [Vieira Lima], do PMDB, com o governo [de Jaques Wagner]. Eu fui convidado para ser secretário de Agricultura e o [vice-governador] João Leão foi para a Secretaria de Infraestrutura. Quando assumi, conseguimos fazer o governo avançar naquele momento difícil.
Mas o PP pode desembarcar do governo?
Não. O nosso projeto é um projeto consolidado de 14 anos. Nós cumprimos nossa missão. O PP foi convidado para uma missão do presidente da República e está cumprindo essa missão lá. Mas o PP tem uma independência. O cenário nacional é independente do cenário estadual.
O PP, na figura do vice-governador João Leão, pleiteia cabeça de chapa na sucessão de Rui Costa, o que, neste momento, não é o que se desenha por parte do PT.
Ele tem todo o direito. João Leão foi convidado para ser vice-governador e podia ser o deputado federal mais votado da Bahia, quando, naquela altura, o governador Rui Costa tinha 5% de intenção de voto e o candidato opositor, 55%. Foi uma missão que ele recebeu. Temos três partidos maiores, o PSD, o PP e o PT, e todos com o direito de ter um candidato a governador. Lá na frente a gente vai discutir. Outros partidos, como o PCdoB e o PSB, estão juntos conosco para que essa união perdure. Volto a dizer: temos uma cláusula pétrea de que há uma independência. O PP, a nível nacional, apoiou a Presidência da República na eleição passada e votou em outro candidato à presidência aqui na Bahia. As coisas no PP não são como se pensa, que tem que ser desse ou daquele jeito. Hoje temos na Bahia o líder nacional do PP, que é Cacá Leão, filho do vice-governador, e temos certeza de que estaremos caminhando e trabalhando melhor pelo Brasil e pela Bahia.