A Assembleia Legislativa aprovou todos os projetos enviados este ano pelo governo da Bahia. O balanço é do presidente da Casa, deputado Adolfo Menezes (PSD), para quem os de iniciativa dos deputados também foram apreciados. “Nenhum projeto deixou de ser votado”, afirma. Ele assegura que a austeridade tem sido uma marca de sua gestão e que o tripé PT-PSD-PP será mantido na sucessão estadual. Nesta entrevista, também transmitida pela TV Alba (canal aberto 12.2 e 16 na Net), Menezes ainda garante: o PSD, mesmo tendo o senador Rodrigo Pacheco como pré-candidato, vai apoiar Lula à presidência.
O senhor, quando assumiu a presidência da Assembleia Legislativa, disse que sua gestão seria marcada pela austeridade. Hoje, quase um ano depois, que balanço faz no sentido de que a austeridade de fato foi colocada em prática e resultou em ganhos para os cofres da Casa?
Coloquei em prática tudo que havia dito no início da nossa gestão. É claro que no setor público a gente, às vezes, não faz tudo que gostaria. Você tem as leis pra serem cumpridas. A gente conseguiu economizar em muitos setores, não fizemos despesas novas, mas, infelizmente, por acordos judiciais feitos por ex-presidentes, os gastos acabam aumentando todos os anos. Nesse período em que estamos à frente da Alba não foram feitas despesas extras. Entendemos que a estrutura da Assembleia já é suficiente. Estamos apenas fazendo a manutenção da Casa. Mesmo assim, o orçamento [de 2022] votado agora no final do ano tem aumento, mas em virtude dos acordos feitos por decisões judiciais. É o balanço positivo que a gente faz, ainda mais em plena pandemia.
Em 2020 houve uma priorização de projetos relacionados à pandemia, principalmente os encaminhados pelo Executivo. Em 2021, além da pandemia, o que mais ganhou destaque por parte dos deputados?
O Executivo, em plena pandemia, em virtude da quantidade absurda de irmãos nossos desempregados, e nós sabemos que na Bahia a maior parte da população é de pessoas humildes, pessoas que perderam suas rendas, mandou pra essa Casa, e nós aprovamos, o Bolsa Presença, que dá um valor de 150 reais a quase 400 mil alunos, o que acaba ajudando as famílias, quase 800 mil pessoas. Isentamos da conta de água, também através de projeto enviado a essa Casa, famílias com consumo mensal inferior a 25 metros cúbicos de água. Pessoas mais pobres também foram isentadas da conta de energia, teve o vale-alimentação. Tudo isso o governador mandou pra reforçar a renda de famílias que estão passando necessidade. Infelizmente, é uma realidade. Mais de quatro milhões de brasileiros voltaram à linha da pobreza. E estamos vendo a volta da inflação, grande parte da população voltando a cozinhar de lenha, uma coisa inimaginável. Tudo em decorrência da política econômica do país junto com a pandemia. A Casa, mesmo não funcionando totalmente, votou todos os projetos enviados.
E os projetos de iniciativa dos deputados?
Graças a Deus, nenhum projeto, por incrível que pareça, deixou de ser votado. Existem projetos de iniciativa dos deputados que, normalmente, todo final de ano se juntam. Projetos simples de utilidade pública, de homenagem a cidadãos, de medalhas, e nós ainda vamos concluir a votação. Mas todos os projetos enviados pelo Executivo e os relevantes de iniciativa de deputados foram votados. Aproveito para agradecer a toda Casa, tanto aos funcionários como aos colegas deputados que não faltaram à Bahia.
Quais temas devem nortear a atuação da Assembleia em 2022?
Normalmente, quase todos os projetos sempre foram de iniciativa do Executivo. Os projetos principais. Nós somos impedidos, constitucionalmente, de votar qualquer projeto de iniciativa do deputado que leve despesa ou aumente a despesa do governo. É inconstitucional. Só isso já impede que muitos projetos de iniciativa da Casa sejam votados. E a gente não sabe ainda no ano de 2022 quais os projetos que o governador vai enviar. Tenho certeza que serão benéficos para a população. Essa tem sido a tônica dos projetos enviados à Casa pelo governador Rui Costa.
O senhor toca num ponto que, por mais que fale com naturalidade, é uma insatisfação de grande parte dos deputados: o fato de a Assembleia apreciar, na maioria dos casos, projetos apenas do Executivo. E que projetos de iniciativa dos deputados têm dificuldade para tramitar, mesmo os que não representam despesa para o governo. Qual esforço existe da presidência da Casa para que projetos do legislativo tenham mais espaço?
Nessa administração já aprovamos algumas dezenas de projetos de iniciativa dos deputados. É claro que em 2020 e até julho de 2021 as comissões estavam funcionando de forma virtual, o que acabava dificultando. Mas nós discutimos mais uma vez sobre isso. Todos os projetos que fossem aprovados na principal comissão, a de Constituição e Justiça, nós iríamos votar. Já votamos algumas dezenas e até terminar o ano legislativo, com certeza absoluta, queremos votar vários projetos de deputados. O problema é que são centenas de projetos. Tem de priorizar e isso é o que a gente está fazendo.
Sobre sucessão estadual, que composição o senhor vislumbra para a chapa governista que deve ser encabeçada pelo senador Jaques Wagner?
Se dependesse de mim, a eleição seria única e de cinco em cinco anos. Mas como não depende de minha mudança, teremos eleição em 2022. Eu acredito, claro que só para o ano iremos saber, mas, na minha opinião, o candidato a governador será Jaques Wagner, uma vaga no Senado será para o senador Otto Alencar e a vaga de vice vai caber ao PP a indicação.
Alguns aliados do governo consideram que está na hora de quebrar esse tripé formado por PT, PSD e PP. Qual o espaço político que existe para considerar a possibilidade de uma chapa diferente?
Eu acho difícil, porque na política vale quanto pesa. Pelo menos pra você fazer uma chapa competitiva pra ganhar as eleições. É como no futebol. Um técnico na final de Copa do Mundo não vai colocar o reserva pra jogar. Ele vai colocar os melhores. Levando pra política, outros partidos têm o direito democrático de participar, mas, às vezes, pelo tamanho, têm que se contentar com outras acomodações. A gente não pode negar que o PT hoje tem o direito, até porque tem a questão do presidente da República que vai influenciar muito no Nordeste, principalmente na Bahia em sendo Lula o candidato, como nós estamos vendo que pode ser. Tudo isso tem que ser pesado. Pra se ganhar o jogo tem que pensar em tudo isso.
Com a falta de espaço para discutir uma chapa diferente, como avalia a possibilidade de dissidência de partidos que hoje compõem a base de apoio do governo?
Essa movimentação sempre ocorre, a política é muito dinâmica. Nós vimos agora na base do [ex-prefeito ACM] Neto, que é um provável candidato da oposição: partidos que estavam com ele e agora já não vão mais estar, em virtude da filiação do presidente da República a um desses partidos. Até março, que é a data limite pela lei eleitoral em termos de filiações, eu acredito que a gente vai ter algumas movimentações.
Em nível nacional, o PSD lançou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, como pré-candidato à presidência da República, mas integrantes do partido dizem que a candidatura não deve seguir adiante. O senhor mesmo já chegou a expressar essa opinião, afirmando que a tendência deve ser de o partido apoiar outro candidato. Que candidato seria esse?
Eu tenho uma qualidade que na política talvez seja um defeito, que é falar o que eu vejo, o que eu acho. Às vezes, tomo algumas porradas, mas faz parte. E eu acho que o Rodrigo Pacheco, mesmo sendo do meu partido, é um balão de ensaio, não vai pra lugar nenhum. São outras intenções o lançamento dele. É assim na política. Política é uma engenharia muito bonita. A política quando é feita com seriedade, é através dela que você muda a vida do povo em qualquer país, em qualquer cidade. Claro que tem os malfeitos em todas as profissões, mas nós não podemos viver contra a política. Às vezes, as pessoas dizem “ah, não vou votar mais em ninguém”, claro, com revolta, com razões. Infelizmente, na política o que dá ibope só são notícias ruins. Às vezes, as boas não são divulgadas. Mas em todas as profissões tem os bons e tem os maus. Cabe às pessoas tentar separar. Então, muita coisa as pessoas estão vendo ali no noticiário e as intenções não são aquelas que estão saindo, mas na hora certa a gente vai ver realmente quem são os candidatos.
O senador Otto Alencar já disse que o PSD deve compor o arco de alianças em torno do ex-presidente Lula.
O senador Otto Alencar, um homem que faz política com seriedade, já foi tudo na Bahia, presidente dessa Casa, conselheiro, secretário de várias pastas, governador interino, tem uma experiência monumental, faz política 24 horas todos os dias e com seriedade. O PSD nasceu aqui na Bahia, mesmo sendo pensado pelo ex-prefeito e ex-ministro Gilberto Kassab, líder nacional. Então, o senador Otto Alencar já disse ao presidente do partido, ao Kassab, que aqui na Bahia, independentemente da posição nacional, o PSD marchará ao lado de Wagner, de Rui e de Lula. Esses serão os candidatos do PSD na Bahia.
Como o senhor avalia as recentes pesquisas de intenção de voto que colocam o ex-prefeito ACM Neto na preferência dos eleitores em comparação com Jaques Wagner?
É natural. O senador Wagner ainda está fazendo o seu trabalho no Senado, ACM já está em campanha. Mas quando se colocam várias perguntas, Wagner está na frente. Quando se coloca Wagner candidato de Lula, as coisas se revertem. Para o ano vai se fazer 16 anos que esse grupo está à frente do governo da Bahia e foi feito um grande trabalho. Isso vai ser mostrado. Eu acredito que esse time vai continuar governando a Bahia. É isso que eu vou trabalhar e é isso que eu espero, porque está dando certo. As pesquisas são o resultado do momento, ainda está muito prematuro, ainda estão sendo formadas as chapas. Tem muita água pra rolar ainda até as eleições, mas eu tenho certeza que iremos continuar governando a Bahia.
O senhor que já foi vereador por dois mandatos e prefeito de Campo Formoso, sua terra natal, está em seu quarto mandato como deputado estadual, foi também governador interino da Bahia, quais são suas futuras pretensões políticas?
Pretendo continuar como deputado estadual. Já tive voto suficiente e poderia ter agora pra ser federal, mas não tenho essa vontade. Claro que eu me sinto preparado pra exercer qualquer cargo, mas sei que tem lideranças maiores em minha frente. Então, tenho que ter tranquilidade e, graças a Deus, eu tenho. E vou continuar, se Deus permitir, como deputado estadual.
DIRETO DO LEGISLATIVO
Transmissão nesta quinta-feira, 23, às 13h pela TV Alba (canal aberto 12.2 e 16 na Net). Reprises: sexta às 16h30, sábado às 20h, segunda às 13h45 e terça às 18h.