“Salvador era a evidência da América Portuguesa, um dos principais portos do mundo, o centro político, religioso e econômico. Já o Rio vinha em um segundo lugar, se destacando, dentre outros motivos, pela descoberta das jazidas de ouro em Minas Gerais. Além disso, aquela região mais ao sul era estratégica para manter o controle da colônia”, explica o historiador Rafael Dantas.
“A mudança de capital visou o controle do que estava sendo explorado em Minas. Foi uma questão estratégica, geográfica e política. Mas Salvador não perdeu totalmente o prestígio. O porto baiano no século XVIII e XIX chegou a ser o mais movimentado da colônia, além de seguirmos sendo o centro religioso. Esse prestígio é explicitado quando vemos que a família real portuguesa desembarcou aqui, em 1808, antes de seguir rumo ao Rio”, destaca.
Que samba é esse?
Após digitar “onde surgiu o samba?”, o Google nos responde: Rio de Janeiro. Partindo para uma pesquisa mais aprofundada, no entanto, surge a pulga atrás da orelha. “Qual a origem do samba?”, bem, o ritmo começou a ser tocado na casa de uma mulher chamada Tia Ciata. “De onde era essa querida?”, nascida no Recôncavo Baiano e migrou para o “errejota” aos 20 anos. “E que batuque era esse que faziam?”, fácil: uma versão do samba de roda que era tradição há décadas na terra de onde veio Tia Ciata.
Há diferenças entre o samba de roda e o samba carioca, mas trata-se de uma adaptação. É como se o Black Sabbath fosse apontado como criador do rock por ter popularizado o heavy metal.
Carnaval
Durante décadas, houve a disputa sobre qual era o melhor Carnaval: Rio ou Salvador. O veredito sobre o vencedor – se é que havia alguma dúvida – está claro com a baianização da festa ‘021’: enquanto a Barra da Tijuca e afins está lotada de trios elétricos, não há desfile de escolas de samba na capital baiana.
O cuidado agora é para não começarem a falar que a criação de Dodô & Osmar é carioca.
Gil carioca do ano
Gilberto Gil nasceu em 26 de junho de 1942, em Salvador, Bahia. Mas parece que a revista Veja Rio ignorou este detalhe histórico-geográfico e, por conta própria adulterou o gentílico do baiano da gema, congratulando-o com o prêmio de “Carioca do Ano” em 2021, ao lado da, essa sim, nascida no Rio de Janeiro, Fernanda Montenegro.
A motivação do prêmio foi justa, a entrada de Gil na Academia Brasileira de Letras. “Curioso” é que no texto que anuncia o prêmio não é informado em nenhum momento onde realmente nasceu o autor de “Tempo Rei”, apenas que ele é “radicado no Rio desde 1970”. Enquanto isso, a publicação fez questão de ressaltar o carioquismo de Montenegro.
Até o perfil da Prefeitura de Salvador reclamou no Twitter. “Dos mesmo criadores de São Paulo, capital do Nordeste, veio aí Gilberto Gil carioca. Eu conto ou vocês contam?”, publicou.
Bônus
Não são apenas os baianos que sofrem. Suposto ícone do Rio, o biscoito Globo é um mineiro biscoito de polvilho. Até o “feijão carioca” é paulista.