Jornalista disse que agressor conseguiu contato de trabalho dela, ligou e mandou mensagens ameaçadoras via SMS, nesta quinta-feira (1º).
Após ser chamada de “monkey” (termo do inglês que significa “macaca”, em português) por um usuário do Instagram durante uma transmissão ao vivo, a jornalista e humorista de stand up comedy Maíra Azevedo, conhecida como “Tia Má”, denunciou, nesta quinta-feira (1º), ter sido ameaçada de morte supostamente pela mesma pessoa.
A jornalista, que é uma das colaboradoras do programa Encontro com Fátima Bernardes, da TV Globo, relatou que o agressor conseguiu o contato de trabalho dela, ligou e mandou mensagens ameaçadoras via SMS. Ela fez um print das mensagens e postou em sua página na rede social Instagram.
“Melhor vc para!! vc nao sabe quem quem tá falando. Pro seu bem me deixe em paz. Vou acaba com vc!!! Peguei onde vc mora e sei onde vc esta agora nesse momento. Vc nao passa de hj. Pode ficar sabendo. Sua macaca preta”, diz o texto das mensagens que Tia Má relatou ter recebido.
Ao lado do print que postou, a jornalista fez um desabafo. “O racista não suportou a repercussão do caso, pegou meu contato de trabalho, me ligou e está me fazendo ameaças, enviando mensagens para meu celular de trabalho. A questão é que essa pessoa me ligou e eu salvei o número, vou encaminhar para a polícia! Ainda que eu morra, morrerei lutando pelo que eu acredito! Jamais vou me furtar do meu direito de seguir combatendo as mais diversas formas de discriminação. Não quer ser exposto? Não cometa crimes! Não vai me intimidar com ameaças!”, disse.
Tia Má disse ao G1 que recebeu as mensagens ameaçadoras no celular quando estava pegando o filho na escola, pouco depois das 12h30. Logo em seguida, se dirigiu até a 1ª Delegacia, localizada no bairro dos Barris, em Salvador, para denunciar o caso.
“Para mim, o preocupante agora é a questão da ameaça. A gente costuma dizer que ‘cão que ladra não morde’, mas isso na realidade não é verdade, e as pessoas muitas vezes colocam as ameaças em prática. Isso é uma forma de coibir que alguém siga em frente na sua luta contra o racismo”, destacou.
A jornalista ainda disse que não sabe como o agressor conseguiu o contato dela e que, ao ligar para ela, ele disse que ficou incomodado com a repercussão que o cometário racista feito por ele teve na imprensa.
“Quando me ligou, perguntou se eu ia continuar dando repercussão a essa história e disse que queria que eu parasse. Disse que me chamou de macaca porque sou preta e que, se eu não parasse de denunciar, iria me matar”, disse a jornalista.
Racismo
“O racismo não nos dá descanso. Não importa onde, nem quando, nem como, racistas sempre encontram uma forma de tentar nos abater. Mas eu, mulher, preta, nordestina, forjada na luta, herdeira de uma dinastia de guerreiras, não vou sucumbir”
Na ocasião, a jornalista falou ao G1 sobre a importância de denunciar o crime, que deve ser punido. “Racismo é crime, não é brincadeira, não é uma coisa que fez sem querer, não é falta de amor no coração. É crime que a gente trata com a lei. Quando você compara uma pessoa a um animal, está reduzindo a sua humanidade e faz com que essa pessoa seja tratada de forma inferior. Esse foi o argumento usado na escravidão, não posso permitir que ninguém que tenha pele preta como a minha seja tratada como mercadoria”, avalia Tia Má.
Ela contou que não foi a primeira vez que sofreu racismo, nem a primeira vez que denunciou o caso para as autoridades. “Eu passo por racismo todos os dias. Não só eu, mas todo mundo que nasceu com pele escura. Me chamar de macaca não me abala, mas reconheço a intenção, que é criminosa”, afirma Tia Má.
A jornalista lembra que também sofreu ataques racistas por meio da internet em 2016 e denunciou o caso em uma delegacia da capital baiana, que ainda está em investigação.
“Dessa vez já encaminhei diretamente ao MP, para a promotoria de Combate ao Racismo. Porque o MP também tem poder de determinar investigação e determinar que o acusado seja punido. A gente tem que denunciar todas as vezes e ficar atenta. A maioria das pessoas que age dessa forma é covarde porque são fakes, mas na internet, você deixa rastros”, afirma.