sábado, 27 setembro, 2025

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Fisioterapeuta baiano disputa vaga em voo espacial suborbital da Blue Origin

Por Morgana Montalvão

O fisioterapeuta soteropolitano Gabriel Matheus Dutra Santos, 36 anos, virou candidato a um objetivo que mistura ciência e um sonho: ele participa do processo seletivo da SERA Space Agency (Space Exploration & Research Agency), uma agência espacial privada norte-americana, que escolherá seis pessoas para viajarem ao espaço em um voo suborbital a bordo do foguete New Shepard da Blue Origin, pertencente ao bilionário Jeff Bezos, dono da Amazon.

A Blue Origin é uma empresa focada de serviços de voo espacial suborbital, que tem o objetivo, em logo prazo, baratear o acesso de civis ao espaço e de tornar essas viagens mais confiáveis por meio de veículos de lançamento reutilizáveis.

Para ele, participar da seleção da SERA Space Agency é “uma oportunidade única, um misto de emoção, gratidão e responsabilidade”.

“[Essa oportunidade] representa o reconhecimento de um trabalho que venho construindo na área da saúde aeroespacial e do ambiente extremo. Independentemente do resultado, participar já é uma conquista e um aprendizado”, enfatiza.

Matheus é diretor de pesquisa do Instituto Geração de Marte, uma instituição voltada para o estudo e a democratização da ciência espacial no Brasil seja de forma acadêmica ou de negócios.  Criado em 2023, o instituto tem a missão de capacitar e incentivar jovens ao desenvolvimento de projetos e pesquisas em astronáutica análoga e civil, através de pesquisas, treinamentos, missões análogas (simulações) , eventos internos e divulgação de oportunidades na área espacial.

Ele,que se graduou na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, se dedica à área da Saúde Aeroespacial a qual visa a manutenção da saúde de trabalhadores da aviação, astronautas, além da população que vive e trabalha em ambientes extremos, isolados e confinados, além de pacientes que necessitam ser deslocados por transporte aéreo.

“Pesquiso como o corpo humano se adapta e quais tecnologias e protocolos de saúde podem ser aplicados a este público e também em pacientes aqui na terra. Também participo ativamente de simulações de missões espaciais e de projetos ligados à preparação para sustentabilidade da vida na terra, principalmente, em condições extremas e futuros habitats em outros planetas”, complementa o fisioterapeuta.
Caso seja selecionado, além de realizar a façanha de ir ao espaço, se tornará um astronauta civil, carregando consigo, o comprometimento de expandir os horizontes da fisioterapia e da saúde aeroespacial.

O que é um voo suborbital

A agência lançou um programa, em parceria com a Blue Origin, para levar civis ao espaço em voos suborbitais a bordo do New Shepard. O projeto tem um viés inclusivo: busca dar oportunidade a representantes de países com pouca ou nenhuma tradição no envio de pessoas ao espaço. A decisão final passa por votação pública no site da agência, que ajudará a definir quem embarca no voo.

Um voo suborbital funciona como uma espécie de “bate-volta”, quando um foguete sai da superfície terrestre a 3,7 mil km/h e sobe a uma altitude máxima de 100 km acima do nível do mar – limite convencionado para definir o início do espaço (conhecido como Linha de Kármán) – por um curto período de tempo para em seguida, retornar ao solo.

Na prática, o veículo decola verticalmente, a cápsula segue até o ponto mais alto, os passageiros experimentam alguns minutos de gravidade zero (Zero G) e depois a cápsula volta para a terra em um pouso controlado.

A principal diferença para um voo orbital é que, nesse tipo de modalidade, o foguete tem uma velocidade tão elevada (mais de 28 mil km/h) que tem energia sufieciente para ficar circulando a órbita terrestre; no suborbital há só um rápido encontro com o espaço.

Brasileiros no espaço

A jornada a que Gabriel Matheus se candidata, não é inédita para o Brasil. Em 4 de junho de 2022, o engenheiro civil mineiro Victor Hespanha, então com 28 anos, participou da 21ª missão do New Shepard, tornando-se o segundo brasileiro a ir ao espaço. O primeiro foi o tenente-coronel Marcos Pontes, em missão russa à Estação Espacial Internacional, em 29 de março de 2006. Pontes viajou na nave russa Soyuz TMA-8. A missão partiu do Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão.

SERA Space Agency/Reprodução

O sucesso da missão que enviou o engenheiro mineiro abriu as portas para uma nova parceria com a empresa Blue Origin e o lançamento de um novo programa de voos espaciais tripulados. Atuamente, Victor Hespanha trabalha para a SERA Angency em tempo integral como comunicador científico e líder de desenvolvimento de negócios para a América do Sul.

Voos abertos a todos

De acordo com o site da empresa, a SERA Space Agency foi fundada para dar a qualquer pessoa a oportunidade de participar da exploração e pesquisa espacial e garantir que todos tenham a chance de participar do crescimento da economia de viagens tripuladas .

A agência criou um programa aberto a cidadãos comuns, especialmente de regiões com representação limitada de astronautas. Segundo a empresa, o mote do programa é a participação pública, permitindo que qualquer pessoa se inscreva e vote na tripulação final.

A colaboração da SERA com a Blue Origin exemplifica esse objetivo, aproveitando o New Shepard para tornar os voos espaciais uma realidade para uma comunidade global diversificada.

Próximos passos

A seleção a qual Gabriel participa segue com suas etapas e prazos definidos pela agência. Enquanto isso, o fisioterapeuta planeja, para seus próximos passos, consolidar projetos de saúde aeroespacial aplicáveis tanto em missões espaciais quanto em ambientes extremos terrestres, além de estreitar a colaboração internacional com iniciativas como a SERA Space Agency e ampliar a divulgação científica, mostrando como o espaço pode transformar a saúde e trazer soluções inovadoras para a sociedade.

Se a vaga se confirmar, o fisioterapeuta não será apenas passageiro de um foguete: será um representante da ciência diante das estrelas.

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