segunda-feira, 3 novembro, 2025

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Cateterismo segue como o procedimento mais eficaz contra o infarto

O infarto agudo do miocárdio segue entre as principais causas de morte no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, o país registra de 300 mil a 400 mil casos anuais, com mortalidade que pode chegar a 30% quando o atendimento é tardio. Nesse contexto, o cateterismo cardíaco se mantém como uma das ferramentas mais eficazes para reduzir complicações e salvar vidas.

O procedimento consiste na introdução de um fino tubo flexível (cateter) por uma artéria do punho ou da virilha até o coração. Com auxílio de contraste e imagens em tempo real, o médico analisa o estado das coronárias, identificando placas de gordura, trombos ou estreitamentos que prejudicam o fluxo sanguíneo.

Segundo o cardiologista intervencionista baiano Sérgio Câmara, “o cateterismo é a forma mais direta e segura de identificar e tratar a obstrução que causa o infarto, restabelecendo o fluxo de sangue no coração e evitando a morte súbita”.

Quando a obstrução é grave, o exame pode evoluir para uma angioplastia, intervenção em que um pequeno balão é insuflado dentro da artéria para desobstruí-la, seguida da colocação de um stent, uma malha metálica que mantém o vaso aberto. “O objetivo é devolver o fluxo sanguíneo ao músculo cardíaco antes que o tecido entre em necrose. Cada minuto conta”, explica Câmara, que atua em hospitais da Rede D’Or em Salvador e Região Metropolitana, além do Hospital da Bahia/DASA.

O cateterismo é indicado principalmente em casos de infarto com elevação do segmento ST, identificado no eletrocardiograma. Nesses casos, o tratamento deve ser feito o mais rápido possível — idealmente nas duas primeiras horas após o início dos sintomas. Em infartos sem elevação de ST ou quadros de angina instável, o exame também pode ser indicado precocemente, quando há risco elevado ou dor persistente. “O cateterismo pode tanto diagnosticar quanto tratar, e essa versatilidade é o que o torna essencial”, reforça o especialista.

Dados da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI) mostram que mais de 120 mil angioplastias são realizadas por ano no país. Estudos apontam redução expressiva na mortalidade hospitalar quando o cateterismo é feito nas primeiras horas do infarto.

Apesar da segurança do método, o procedimento ainda é cercado por mitos. Um dos mais comuns é o de que o cateterismo é arriscado. Sérgio Câmara esclarece que, com os avanços tecnológicos, o risco de complicações graves é bastante reduzido. “Hoje o procedimento é realizado com anestesia local, em centros preparados e com alta taxa de sucesso. O risco de não fazer o cateterismo, em casos indicados, é muito maior que o de realizá-lo”, observa.

Outro equívoco é acreditar que quem faz o exame nunca mais terá infarto. “A intervenção trata as lesões do momento, mas não impede o surgimento de novas placas. Por isso, é fundamental manter o acompanhamento clínico, controlar o colesterol, o diabetes, a pressão e mudar hábitos de vida”, alerta o cardiologista.

Na Bahia, os principais centros de hemodinâmica estão concentrados em Salvador e na Região Metropolitana, o que limita o acesso de pacientes do interior ao atendimento emergencial. “Muitas pessoas chegam tarde demais por causa das longas distâncias ou da falta de transporte adequado. A interiorização dos serviços de hemodinâmica é um desafio urgente”, destaca Câmara.

O médico também enfatiza a importância de a população reconhecer os sintomas do infarto: “Dor ou aperto no peito, que pode irradiar para o braço esquerdo, costas ou mandíbula, acompanhada de falta de ar, suor frio e enjoo, exige atendimento imediato. Quanto antes o paciente chegar, maiores as chances de sobrevivência e recuperação”.

Para o especialista, o cateterismo não é apenas uma intervenção médica, mas uma estratégia de tempo. “Em casos de infarto, o tempo é músculo. Cada minuto perdido pode custar parte do coração e, muitas vezes, a própria vida”, conclui.

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