sábado, 22 fevereiro, 2025

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Chico Buarque se apresenta neste fim de semana na Concha do TCA

Cantor abre temporada de três dias da turnê ‘Que tal um samba?’ em Salvador

Há tempos, o cantor e compositor carioca Chico Buarque, 78, não mete o pé na estrada ‘like a rolling stone’. Ultimamente, inclusive, seu nome tem sido mais ventilado em polêmicas político-partidárias do que necessariamente em questões que envolvam sua vasta, rica e grandiosa obra. Diga-se de passagem, uma das mais importantes e consagradas da história da música popular brasileira desde que se consome música no País.

Mas desde setembro do ano passado, depois de lançar, pela Biscoito Fino, o delicioso single Que tal um samba?, e para deleite geral da nação, Chico decidiu montar uma turnê e percorrer o Brasil com o show que leva o mesmo nome do single. Em Salvador – encerrando a fase nacional –, ele se apresenta hoje, amanhã e depois, às 19h, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves. Desde já, os fãs agradecem imensamente.

Com direção musical do maestro Luiz Claudio Ramos, Chico terá no palco a companhia de uma de suas atuais musas, a paulistana Mônica Salmaso, 52, seguramente uma das grandes intérpretes da obra buarqueana.

Mônica abre Que tal um samba? com alguns números solo, todos do cancioneiro de Chico. Além de cantar, a artista também toca diferentes instrumentos ao longo da apresentação: kalimba, tamborim e flauta de pastoreio norueguesa.

“Eu faço uma abertura com os músicos para qual, com total liberdade, escolhi canções com o intuito de mostrar o meu trabalho e ao mesmo tempo preparar o palco para a chegada de Chico. Então, fazemos alguns duetos e depois ele segue cantando sozinho com os músicos. Volto ao palco pontualmente algumas vezes para outros duetos e finalizamos juntos”, explica Salmaso.

Mônica conta ainda que para os shows de Salvador fez uma mudança – no momento de sua participação – para homenagear o Nordeste. “Vai ter um sabor de estreia. O Brasil inteiro, belezas, problemas, agruras e, sobretudo, esperança está cantado no repertório do show”, vibra a cantora.

Juntos, Salmaso e Chico visitam canções presentes no imaginário do povo brasileiro, como Sem fantasia, e trazem novamente à cena alguns clássicos do compositor carioca criados ao longo de quase 60 anos de trajetória artística.

Para Mônica, as músicas de Chico são parte fundamental de sua formação musical e emocional. “A mesma relação que eu tenho com a obra dele, grande parte dos brasileiros têm. Sua voz poética e musical representa um enorme amor pelo Brasil diverso e democrático”.

Retrato em preto e branco

Além da canção que dá nome ao show, serão apresentadas mais 28 composições. Aqui vai um spoiler de algumas delas: O meu guri, Canção desnaturada, Biscate e Bancarrota blues. Clássicos como Samba do grande amor, Sob medida, Morro dois irmãos, Futuros amantes e Choro bandido aparecem também ao lado de criações mais recentes, entre elas Blues pra Bia e Tua cantiga.

Luiz Claudio Ramos diz que a seleção musical foi pensada a partir da carreira de Chico como um todo. “Como este show não foi baseado em um disco com músicas novas, o repertório é baseado na rica trajetória do Chico”, confidencia o maestro. “Chico sempre foi o responsável pelos roteiros das apresentações. Ele ouve sugestões, mas tem sempre a última palavra”, acrescenta.

Com cenografia de Daniela Thomas, o roteiro passeia por diferentes décadas da carreira do cantor carioca, reafirmando, mais uma vez, a coerência narrativa e musical do autor de Folhetim. O cenário é um paredão de madeira em que serão projetadas 26 fotografias de 19 artistas. Entre eles, os geniais Sebastião Salgado e Walter Carvalho.

Bastidores

A estreia oficial do show foi em João Pessoa (PB) em setembro do ano passado. Natal, Curitiba, Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Brasília, Recife, Rio e São Paulo também já foram visitadas pelo show. E depois de circular por quase oito meses pelo País, Que tal um samba? vai virar álbum e filme. Tudo registrado pela Biscoito Fino.

O patrocínio é da Icatu, a produção geral, de Vinícius França, e Ricardo Tenente Clementino dá as ordens na direção técnica. Tem ainda Maneco Quinderé no desenho de luz e o baiano Cao Albuquerque nos figurinos.

A banda é formada pelos fiéis escudeiros de palco do compositor de Construção: maestro Luiz Claudio Ramos (arranjos, guitarra e violão), João Rebouças (piano), Bia Paes Leme (teclados e vocais), Chico Batera (percussão), Jorge Helder (baixo acústico e elétrico), Marcelo Bernardes (sopros) e Jurim Moreira (bateria).

Até o encerramento desta matéria, tentamos falar com Chico Buarque, mas fomos informados por sua assessoria local que ele não daria entrevistas.

No entanto, diante de um artista de tamanha magnitude – dono de uma obra irretocável – tudo é perdoável. E como diria o cineasta Cacá Diegues no livro Meu caro Chico – depoimentos, “Chico está acima do tempo e, em certas circunstâncias, acima do próprio Brasil. Como artista, deve ser reverenciado e tão amado quanto merece ser, sendo alguém tão íntegro e humano. É uma graça do destino ser seu contemporâneo”. Os amantes da boa música/literatura assinam embaixo.

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