segunda-feira, 20 outubro, 2025

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Correios negociam empréstimo de R$ 20 bilhões para reverter crise financeira

O presidente dos Correios, Emmanoel Rondon, confirmou nesta quarta-feira (15) que a estatal negocia um empréstimo de R$ 20 bilhões para recuperar o caixa da companhia. O plano faz parte de uma ampla reestruturação que inclui novo programa de demissão voluntária (PDV), venda de imóveis, renegociação de contratos e busca por novas fontes de receita. Segundo o executivo, as medidas devem permitir que a empresa volte a registrar lucro apenas em 2027.

Em sua primeira entrevista coletiva desde que assumiu o cargo, em 26 de setembro, Rondon afirmou que as ações anteriores foram emergenciais e que agora o foco é estruturar mudanças de médio e longo prazo. “Elas serão feitas em uma magnitude maior do que foram feitas no passado recente, para cumprir a função de restauração da empresa”, declarou.

O presidente não detalhou metas específicas de redução de despesas ou de geração de novas receitas. Segundo ele, os valores ainda estão sendo debatidos com bancos credores, entre eles Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BTG Pactual, Citibank e ABC Brasil. O sucesso do ajuste financeiro, segundo Rondon, será o que garantirá os recursos necessários para honrar o novo empréstimo.

“O empréstimo é uma ponte para a nova situação dos Correios no futuro”, afirmou o executivo, explicando que o dinheiro será utilizado para cobrir o rombo no caixa, custear as medidas de reestruturação, incluindo o PDV, e quitar um empréstimo anterior de R$ 1,8 bilhão, cujas parcelas vencem entre janeiro e junho de 2026.

A situação financeira da estatal é crítica. No segundo trimestre de 2025, os Correios registraram prejuízo de R$ 2,64 bilhões — quase cinco vezes o resultado negativo do mesmo período de 2024. No acumulado do primeiro semestre, as perdas chegaram a R$ 4,37 bilhões, o triplo do registrado no ano anterior. Segundo Rondon, há uma diferença de R$ 5,6 bilhões entre os ativos e os compromissos da empresa a vencer nos próximos 12 meses.

A crise já afeta as operações. Com menor eficiência e atraso nos pagamentos a fornecedores, os Correios vêm perdendo contratos e receita. “A injeção de recursos ajuda a dar liquidez e interromper esse ciclo negativo”, avaliou o presidente, acrescentando que pretende renegociar contratos e adotar uma estrutura de custos “o mais enxuta possível”.

O novo PDV será diferente do anterior, que teve 3.500 adesões e gerou economia anual de R$ 700 milhões. Desta vez, o programa deve priorizar áreas com ociosidade. “Se fosse uma política ampla e linear, o risco seria haver demissões em locais onde a empresa tem demanda por maior capacidade de operação”, justificou.

Rondon também mencionou a possibilidade de revisão de custos com o Postalis, fundo de pensão dos funcionários, cujo pagamento de acordos tem pesado sobre o caixa da estatal. Além disso, a empresa avalia parcerias com outras companhias e o reposicionamento do marketplace recém-lançado.

Diante do montante do empréstimo, opositores voltaram a defender a privatização da estatal, tema retirado da pauta durante o governo Lula. Rondon evitou tratar diretamente da hipótese: “A discussão é sobre a reestruturação da empresa. Se a gente fizer as melhorias que a gente entabulou, a viabilidade financeira vai ser alcançada”.

O presidente reforçou o caráter técnico da nova gestão. “Fui chamado porque sou um técnico, não sou político. A missão aqui é adotar uma gestão técnica da empresa”, concluiu.

Crise

A crise dos Correios vem se agravando nos últimos anos, impulsionada pela queda no volume de correspondências e pela concorrência do setor privado em entregas expressas e e-commerce. Fundada há mais de 360 anos, a empresa é uma das maiores estatais do país e opera em todos os municípios brasileiros.

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