O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma das principais causas de morte e incapacidade permanente no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre os grupos mais afetados, as mulheres se destacam não apenas pela quantidade de casos, mas também por fatores hormonais e condições específicas, como gravidez, uso de anticoncepcionais e menopausa, que aumentam a vulnerabilidade.
A jornalista Vânia Marinho, de 63 anos, conhece bem essa realidade. Há 13 anos, ela sobreviveu a um AVC hemorrágico e desde então enfrenta um longo processo de reabilitação. “Foi um golpe da vida e precisei ressignificá-lo, um processo longo, doloroso, mas transformador. As terapias e o apoio da minha família foram fundamentais. Hoje, sou grata por cada pequena conquista e faço questão de alertar outras mulheres”, conta.
A data de 29 de outubro, Dia Mundial do AVC, reforça a importância da conscientização sobre prevenção, diagnóstico precoce e reabilitação. Segundo a American Heart Association, uma em cada cinco mulheres terá um AVC ao longo da vida — dado que reforça a necessidade de atenção à saúde feminina.
Fatores que aumentam o risco
A cardiologista e docente do IDOMED, Poliana Requião, explica que o risco de AVC varia conforme a idade, mas aumenta após a menopausa.
“Em idades mais jovens, doenças autoimunes e o uso de anticoncepcionais orais podem elevar o risco de tromboses e de AVC isquêmico, por estarem associados ao aumento da coagulação do sangue. Já durante a gestação, também há risco de AVC hemorrágico por ruptura de aneurismas cerebrais. E após a menopausa, com a queda dos níveis de estrógeno, hormônio que tem efeito protetor sobre o sistema cardiovascular, o risco volta a subir”, detalha.
Como reconhecer os sinais
Os sintomas mais comuns de AVC incluem boca torta, fala enrolada e fraqueza em um dos lados do corpo. A médica orienta o uso do método SAMU, forma simples de identificar sinais e agir rápido:
- S – Sorriso: observe se um lado do rosto não se move;
- A – Abraço: veja se consegue levantar os dois braços igualmente;
- M – Música: perceba se a fala está arrastada ou confusa;
- U – Urgência: ligue imediatamente para o SAMU (192).
“O AVC é uma emergência médica, e cada minuto faz diferença. A expressão ‘tempo é vida, tempo é cérebro’ traduz exatamente essa urgência. Quanto mais rápido o atendimento, maiores são as chances de recuperação. O tratamento imediato pode não apenas evitar sequelas graves, mas também salvar vidas”, reforça Poliana Requião.
Prevenção é o melhor tratamento
Adotar hábitos saudáveis é a principal forma de reduzir o risco. Praticar atividades físicas, manter uma dieta equilibrada, controlar o peso, a pressão arterial, o diabetes e evitar o tabagismo e o álcool em excesso estão entre as medidas essenciais.
“A prevenção é a melhor forma de combater o AVC. Além disso, o uso de anticoncepcionais ou terapia hormonal deve ser sempre acompanhado por um médico especializado”, recomenda Poliana.
Reabilitação e recuperação
Para quem sobrevive a um AVC, o caminho de volta à autonomia exige paciência, fisioterapia e acompanhamento multidisciplinar. O fisioterapeuta e professor da Estácio, Ozair Argentille, destaca que o papel da reabilitação é essencial.
“Após um AVC, o papel da fisioterapia é absolutamente central. Ela busca promover a capacidade do cérebro de se reorganizar e criar novas conexões. Nosso objetivo é restaurar a funcionalidade e a autonomia do paciente, permitindo que ele retome suas atividades de vida diária com qualidade e independência”, explica.
Segundo Ozair, o tratamento deve envolver treino motor, equilíbrio, marcha e prevenção de complicações, com o apoio de fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicólogos e médicos. “O paciente enfrenta não só limitações físicas, mas também emocionais e cognitivas. Trabalhar de forma integrada é o que garante um processo de reabilitação mais completo, humano e eficaz”, complementa.
Contexto adicional
De acordo com o Ministério da Saúde, o AVC é a segunda principal causa de morte no Brasil, responsável por cerca de 100 mil óbitos anuais. Estima-se que um brasileiro sofre AVC a cada cinco minutos, sendo que metade dos casos poderia ser evitada com medidas preventivas simples.

