No Dia Mundial da Saúde Mental, comemorado nesta sexta-feira (10) , um olhar urgente se volta para a relação entre saúde emocional e violência no trânsito no Brasil. Apesar dos avanços, o país é um dos mais violentos e letais da América Latina nas ruas, reflexo direto dos altos índices de ansiedade e estresse da população.
Rodrigo Ramalho, pesquisador do Observatório Nacional de Segurança Viária -organização social sem fins lucrativos dedicada a desenvolver ações que contribuam efetivamente para a redução dos elevados índices de vítimas no trânsito brasileiro – destaca que emoções negativas como raiva, ansiedade e frustração impactam diretamente a segurança viária brasileira.
“Quando analisamos os acidentes causados por fatores humanos, encontramos sempre uma emoção negativa como ponto de partida”, explica.
O artigo científico “Violência no trânsito: emoções negativas dos condutores impactam a segurança viária, causam conflitos e afetam a saúde física e mental de toda a sociedade”, publicado pelo Observatório, mostra que o trânsito brasileiro se tornou um espelho da saúde mental coletiva, e demonstra que a violência nas ruas não é apenas uma questão de infraestrutura ou fiscalização.
A falta de controle emocional é um reflexo direto de como as emoções negativas se manifestam em comportamentos de risco, produzindo uma cadeia que vai de infrações a acidentes, passando por conflitos violentos e culminando em sérios impactos na saúde física e mental de todos os envolvidos.
Pesquisa “World Mental Health Day 2024” da Ipsos, uma das maiores empresas de pesquisa de mercados do mundo, coloca o Brasil na quarta colocação como o país mais estressado no ranking global. Esse contexto emocional se reflete no comportamento ao volante: “Apesar de os condutores estarem utilizando o ‘cérebro operacional’ para guiar o veículo, nos momentos de tensão, quem conduz é a emoção”, alerta Ramalho.

Emoções em rota de colisão com a segurança viária
Medo, raiva, ansiedade e frustração formam uma cadeia de risco que transforma pequenos gatilhos — um congestionamento, o medo de se atrasar — em infrações, brigas e acidentes. O estudo mostra que o trânsito funciona como um espelho da saúde mental coletiva e que a violência nas ruas não é só falha de infraestrutura ou fiscalização.
Embora faltem estatísticas oficiais sobre confrontos entre motoristas, uma busca rápida no Google revela cerca de inúmeras menções a “briga de trânsito”.
Brigas, armas e letalidade
O fenômeno conhecido internacionalmente como ‘road rage’ tem desfechos letais: nos EUA, o Every Town Gun Safety indica que uma pessoa é baleada a cada 18 horas em conflitos no trânsito. No Brasil, o aumento de cerca de um milhão de armas vendidas legalmente nos últimos cinco anos, segundo dados do Exército Brasileiro, segundo Ramalho pode aumentar significativamente a letalidade das brigas de trânsito.
O pesquisador cita casos que ilustram o ciclo de violência: o motociclista Luan Henrique Bonifácio foi assassinado em 5 de março de 2024 após uma discussão no trânsito em São Paulo; em seguida, o autor do crime foi atropelado e morto por vingança, segundo o inquérito policial — um exemplo trágico de como a raiva no trânsito pode gerar mais violência.
Impactos na saúde física e mental
O tempo excessivo no trânsito e a exposição contínua a emoções negativas afetam a qualidade de vida. Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), realizadas em 2023 com 2.019 trabalhadores mostrou que 55% afirmam ter sua qualidade de vida prejudicada pelo transporte e 51% dizem perder produtividade por causa do trânsito.
Entre profissionais do volante, os efeitos são ainda mais graves: estudos indicam que motoristas de ônibus com depressão e ansiedade têm risco três vezes maior de se envolver em acidentes; 37% apresentam hipertensão, 24% síndrome metabólica e 27,5% estresse clínico. O cortisol crônico, resultante do estresse diário, “literalmente encolhe áreas do cérebro responsáveis pela memória e controle emocional”, segundo Ramalho, contribuindo para obesidade, diabetes e outras doenças.
Educação Emocional no Trânsito (EET)
Como resposta, o Observatório propõe a Educação Emocional no Trânsito (EET): uma metodologia para desenvolver habilidades emocionais entre todos os usuários das vias — motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres. “Não adianta apenas ensinar leis e regras se não ajudamos as pessoas a lidarem com saúde mental no trânsito”, defende o pesquisador.
A EET visa prevenir infrações, sinistros e conflitos violentos ao integrar o manejo emocional à formação dos condutores — uma lacuna hoje visível na formação tradicional de motoristas. A proposta é que a EET faça parte da educação de trânsito básica e da reciclagem de profissionais do volante.
Para saber mais sobre a Educação Emocional no Trânsito, acesse: www.peetransito.com