sábado, 11 outubro, 2025

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Estudantes de escolas públicas vencem concurso de poemas em festa literária

Três estudantes da rede pública tiveram poemas premiados no Concurso Versos de Identidade Ano II, na última sexta-feira (3), durante a 5ª Festa Literária Arte e Identidade, no Espaço Juventudes, no Largo Quincas Berro D’Água, em Salvador.

Entre os dez finalistas, subiram ao pódio Ysllana Anunciação (Colégio Estadual Cidade de Candeias), Luis Alves (Colégio Estadual Desembargador Pedro Ribeiro) e Sueli Barboza (Escola Municipal Conselheiro Luiz Viana). Cada um recebeu troféu, prêmio em dinheiro e três livros da literatura negra infantojuvenil.

Sueli Barboza, terceira colocada, é autora do poema ‘Resistir e festejar a vida’. A estudante atribui o incentivo à mãe, à diretora e aos amigos presentes: “Além de representar a minha escola, essa conquista é um grande estímulo para continuar produzindo, participar de outras competições e acreditar que posso mais e mais”, afirmou Sueli.

Luis Alves ficou em segundo lugar com ‘Resistir é fé’, inspirado no amigo Isaac Barbosa, vencedor da edição de 2024. Ele disse que a ancestralidade, os ensinamentos de religiões de matriz africana e experiências pessoais motivaram o texto, dedicando o prêmio à avó e a uma professora. “Hoje eu não levei o primeiro lugar, mas o segundo significa muito para mim. Significa que a minha comunidade está em festa e que eu posso tudo. Na próxima edição volto a me inscrever, pois, como digo em outro poema meu, lutar não é desistir e desistir nunca será uma opção para mim”, declarou.

No topo do pódio, com ‘Entre sonhos e coragem’, Ysllana Anunciação falou sobre ancestralidade feminina negra e a oficina de poesia cênica que a formou. “Ganhar este concurso significa muita coisa. Significa ter orgulho de mim mesma, porque eu não confiava muito no meu potencial; conquistar minha autoconfiança; saber que eu posso, sim, ser alguém na vida, que posso ter muitas coisas, muito além do que eu imaginava”, disse Ysllana.

A coordenadora pedagógica da festa e integrante da comissão de seleção, Márcia Mendes, junto da curadora Karla Daniella Brito, avaliou os mais de 30 poemas inscritos e destacou a politização e o empoderamento dos jovens: “Percebi que esses meninos e meninas estão mais politizados em relação aos seus direitos e ao lugar que ocupam no mundo. Eles estão se reconhecendo, se respeitando e afirmando com mais segurança quem são”, ressaltou.

Márcia também observou a presença da dor e da tristeza causada pelo racismo, especialmente nas produções das meninas: “Vejo jovens entristecidos diante desse Brasil que ainda insiste em negar o racismo, inclusive dentro das escolas. Essa negação acaba silenciando muitos deles, impedindo que expressem quem são e o que fazem”.

O homenageado do concurso, o poeta e performer Nelson Maca, reforçou a potência das vozes periféricas: “Prova que a juventude periférica e negra quer estudar, quer fazer poesia, quer se apresentar no palco, quer bater palmas, quer ganhar palmas. Almeja ganhar prêmios pelo estudo, e não pela violência, não pela capacidade de distribuir ilícitos”, afirmou.

Três dias de festa e público numeroso

A 5ª Festa Literária Arte e Identidade reuniu cerca de 8 mil pessoas nos três dias, com circulação por cinco espaços fixos e oito parceiros culturais. Aproximadamente 3 mil alunos de 60 escolas participaram; o evento contou com 32 expositores na Feira Maria Felipa e 140 atividades gratuitas.

A programação valorizou expressões negras e indígenas, oferecendo palestras, oficinas, rodas de conversa e vivências criativas que aproximaram crianças e adolescentes às suas raízes culturais. A iniciativa, realizada pela Associação Cultural e Carnavalesca Quero Ver o Momo, teve apoio financeiro do Governo do Estado e de diversos editais e fundos culturais.

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