O artista argentino radicado no Brasil faleceu em agosto do ano passado e deixou um legado irreverente
Em agosto do ano passado, a Bahia acordou mais triste. O artista argentino radicado no Brasil, Reinaldo Eckenberger, faleceu na noite do dia 8, mas fez jus ao símbolo do infinito, deixando um legado extenso de irreverências e experimentações. Já hoje (03), Salvador acorda mais feliz, já que a imortalidade de Eckenberger lembra da sua força no segundo pavimento do Palacete das Artes, a partir das 13h.
Na exposição, com entrada gratuita e que homenageia o jeito crítico e bem humorado do artista, estão reunidas mais de 300 peças, as quais representam as diversas fases e linguagens da trajetória do criador, indo desde as mais tradicionais, como pintura, desenho e gravura, até experimentações mais inventivas: como colagens de plásticos, santos de gesso, bonecos de pano e, ainda, trabalhos com bibelôs, que marcaram a fase mais recente.
“A obra de Eckenberger é daquelas atemporais. É uma reunião ética, que demonstra corajosamente que antiético é ser medíocre, é acompanhar modismos”, pontua o diretor do Palacete, Murilo Ribeiro, que ainda lembra do artista como ‘autor de uma obra sem pátria’: “Diante da importância, da singularidade, da coerência e da ousadia da obra sem pátria desse artista que, não era baiano, mas é da Bahia, trazemos parte do seu acervo, que segue para Coleção Treger/Saint Silvestre, no Museu Oliva Creative Factory, SJM, Porto, em Portugal”.
Reinaldo Eckenberger nasceu em Buenos Aires, em 1938 e chegou à Bahia em 1965, cidade que elegeu para viver e que, segundo ele, era o único lugar do mundo capaz de abrigar o barroquismo de sua arte. “Manteve-se fiel ao seu estilo irreverente, crítico e divertido. Na arte e na vida, ele traduzia seu estado de espírito. As milhares de peças vinham com excesso, tudo muito caótico e sempre carregado de erotismo”, disse Ronaldo Jacobina, colunista do CORREIO, ao lamentar pela morte do visionário em 2017.
Conforme explica a curadora Luciana Accioly, a proposta da mostra é celebrar a quebra de padrões que Eckenberger causou com sua mistura de vanguardas dadaístas, surrealistas e expressionistas. Para ela, a obra de Eckenberger estabelece um vigoroso diálogo com a cena norte americana das décadas de 60 e 70, em especial com a pop arte. “Na época, Salvador ainda mantinha artes repletas de tabus e estereótipos, ele chegou plantando uma mudança nisso”, conta, ainda pontuando que temas como a beleza do grotesco e o diálogo com a psicanálise que passeia pela maternidade e pela infância, são alguns dos abordados nas obras principais da mostra.
Embora pertencesse a geração de grandes nomes das artes visuais baianas, Eckenberger trilhou seu caminho mais distante das galerias do que poderia. Apesar das diversas oportunidades, fez poucas e grandes exposições, por discordar do modus operandi do mercado de arte. Vencedor do primeiro premio de pintura, na 1ª Bienal Nacional de São Paulo, “o artista nos lembra que cultura é algo sempre a ser repensado, algo que sempre pode ser melhorado”, como afirma a curadora do projeto.
A exposição, que é uma realização da Trevo Produções e tem apoio do Consulado Geral da Argentina na Bahia e da Casa Martín Fierro (Associação Cultural Argentino-Brasileira da Bahia), pode ser conferida até o dia 10 de junho.
Serviço
Palacete das Artes: Rua da Graça, 284
De 3 de maio a 10 de junho
Visitação: terça a sexta, das 13h às 19h, e
sábados, domingos e feriados, das 14h às 18h.
Entrada gratuita.