quinta-feira, 20 novembro, 2025

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Fraude no INSS: Empresário é apontado como elo de lavagem de dinheiro

Chamado a depor como testemunha, o empresário João Carlos Camargo Júnior, conhecido como “alfaiate dos famosos”, compareceu nesta terça-feira (18) à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, mas decidiu permanecer em silêncio amparado por um habeas corpus. Mesmo assim, parlamentares o apontaram como possível “elo principal” para lavar recursos desviados de aposentados e pensionistas. As informações são da Agência Senado de Notícias.

O relator da comissão, deputado Alfredo Gaspar (União–AL), afirmou que documentos oficiais mostram que a MKT Connection Group — aberta por Camargo em 2022 — recebeu mais de R$ 31 milhões da Associação Amar Brasil, apontada como uma das envolvidas na fraude no INSS. Ele também citou que a Camargo Alfaiataria teria recebido R$ 1,7 milhão da mesma entidade, sem comprovação dos serviços.

Para o relator, Camargo se conectou a pessoas investigadas pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União. Ele mencionou nomes como Américo Monte Júnior, Anderson Cordeiro de Vasconcelos, Felipe Macêdo Gomes, José Branco Garcia e Igor Dias Delecrode, que, segundo ele, formariam o núcleo empresarial responsável por descontos fraudulentos em benefícios previdenciários. Gaspar informou que solicitará ao Supremo Tribunal Federal a prisão do empresário.

“Eu lamento que a Alfaiataria Camargo, tão famosa, tenha usado as suas contas com dinheiro sujo roubado de aposentados e pensionistas […]. Esse rapaz aqui é um profissional de sucesso, sujou a carreira, o futuro, pela ganância. Usou as suas contas para lavar dinheiro”, criticou.

A acusação foi reforçada pelo senador Sergio Moro (União-PR). “Aqui ficou evidenciado que a Amar é uma dessas empresas envolvidas no roubo de aposentados e pensionistas […] e seguindo o fluxo de dinheiro chega a essa empresa em que o senhor é sócio. A indagação que fica […] é que a sua empresa recebeu R$ 24 milhões, em princípio com suspeitas de lavagem de dinheiro”, disse.

Coaf identificou movimentações suspeitas

Segundo relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), a Associação Amar Brasil fez transferências superiores a R$ 31 milhões para a MKT Connection Group. Camargo também aparece como ex-sócio da Kairos Representações Ltda., empresa ligada a outros investigados, entre eles Américo Monte Júnior e Anderson Vasconcelos.

Direito ao silêncio

Camargo exerceu o direito de permanecer em silêncio na maior parte do depoimento, respaldado por decisão do ministro Alexandre de Moraes. O presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), afirmou que o empresário deveria responder às perguntas que não o incriminassem, mas a defesa discordou.

O empresário disse considerar “injusta” a associação entre sua alfaiataria e fraudes no INSS. Ele confirmou ser dono da MKT Connection e declarou que os serviços prestados à associação teriam sido feitos “como o dia a dia de qualquer empresa”.

Relação com empresas e contador

Camargo afirmou possuir duas empresas, mas Alfredo Gaspar disse ter identificado 14 CNPJs ligados ao depoente, incluindo a Kairos Representações. Ele também destacou que Mauro Palumbo Concílio, contador comum a vários investigados, presta serviços para empresas de Camargo e de seus ex-sócios.

Segundo Gaspar, o grupo teria movimentado mais de R$ 700 milhões. “Sabe quanto o alfaiate conseguiu? Quase R$ 32 milhões até agora descobertos”, afirmou.

Parte desses valores teria sido repassada para a empresa Rob Comércio, administrada por Juliana Campos da Silva, que recebeu Auxílio Brasil e Bolsa Família, o que, para o relator, indicaria indícios de lavagem de dinheiro.

Parlamentares apontam falta de respostas

Mesmo pressionado, Camargo permaneceu em silêncio diante de perguntas sobre serviços prestados, origem dos valores e possíveis repasses. Entre 2022 e 2025, a MKT Connection teria recebido R$ 24,3 milhões da Amar Brasil e enviado mais de R$ 780 mil de volta.

A senadora Damares Alves destacou que a CPMI possui documentos que ligam Camargo às fraudes. “O senhor deveria ter ficado lá fazendo os seus ternos maravilhosos […] O seu silêncio pode estar lhe condenando”, disse.

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