A trabalhadora doméstica Cíntia da Silva, 43 anos, estava a caminho do serviço quando foi abordada por um homem armado e assaltada. O crime aconteceu em outubro de 2021, no bairro dos Barris, em Salvador, e ela entrou para uma triste estatística. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), cerca de 148 mil pessoas foram roubadas na Bahia entre o final de 2020 e o último trimestre do ano passado. O estado foi o terceiro com mais ocorrências no Brasil.
Essa foi a primeira vez que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) acrescentou perguntas sobre segurança público à PNADC. Os estados com maior número de ocorrências foram São Paulo (394 mil) e Rio de Janeiro (181 mil). Apesar de ter a quarta maior população do país, a Bahia ficou na terceira posição em número de roubos, quando o bem é subtraído mediante uso da violência ou ameaça, com ou sem a utilização de uma arma.
A supervisora de Disseminação de Informações do IBGE na Bahia, Mariana Viveiros, explicou que o estudo foi realizado em parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, através de entrevistas e que os dados levantados foram colhidos com os moradores, sem relação com os registros feitos em órgãos oficiais do estado.
“Essa pesquisa é feita nos domicílios das pessoas, não usa dados de nenhuma Secretaria de Segurança Pública ou boletim de ocorrência, vamos às casas das pessoas e perguntamos uma série de coisas. Este modelo, aplicado no quarto trimestre de 2021, perguntava sobre furtos, roubos, equipamentos de segurança e uma série de questões relacionadas a sensação de segurança e a violência”, explicou.
O estudo ouviu os moradores que foram vítimas de roubos, mesmo aqueles que não prestaram queixa. “Quando pegamos dados de segurança pública temos as informações do que foi registrado. A proposta da pesquisa é tentar captar o que se chama de ocorrência oculta, o que as pessoas sofreram em termos de violência e não registraram”, disse.
Quando os números são analisados levando em consideração o tamanho da população, a porcentagem é menos alarmante e a Bahia ocupa a 14ª posição. A pesquisa apontou também que a criminalidade é maior na capital. Foram 59 mil roubos em Salvador, 4ª cidade com mais ocorrências em quantidade absoluta e 8ª em termos percentuais. A trabalhadora doméstica Cíntia, que mora e trabalha na capital, lamentou os números.
“Salvador é uma cidade tão linda, com tantos locais agradáveis de visitar e passear, mas a gente não se sente segura. O bandido que levou meu celular foi agressivo, não me machucou fisicamente, mas foi bruto na abordagem. Duas semanas depois minha vizinha também foi assaltada quando voltava do trabalho, em São Marcos”, contou.
Estrutura
Entre 2020 e 2021, 133 mil domicílios baianos (2,8% do total) e 53 mil domicílios de Salvador (4,9%) tinham ao menos um morador que havia sido vítima de roubo. Para tentar se proteger, as pessoas estão investindo em infraestrutura, por isso, 58,4% das residências tinham dispositivo ou funcionário para segurança. Na casa do promotor de vendas Rodrigo Anunciação, 35 anos, a solução foram as grades.
“Quem pode pagar porteiro, segurança particular ou instalar câmeras faz isso, mas quem não pode se vira do jeito que dá. A gente colocou grande em todas as janelas, aumentamos o muro e trocamos o portão”, contou. A pesquisa mostrou que em 101 domicílios baianos havia pelo menos uma arma de fogo, 7ª menor proporção do país.
Amazonas (2,1%), Sergipe (2,1%) e Pará (2,1%) tiveram as maiores proporções de vítimas de roubos, enquanto Santa Catarina (0,2%), Minas Gerais (0,4%) e Mato Grosso (0,5%) apresentaram os menores. A incidência de roubos foi maior na população soteropolitana do que na baiana, atingindo 2,4% das pessoas de 15 anos ou mais. Entre as capitais, os maiores indicadores foram registrados em Teresina/PI (4,4%), São Luís/MA (4,4%) e Manaus/AM (3,2%). No outro extremo, estavam Florianópolis/SC (0,0%), Goiânia/GO (0,8%) e Belo Horizonte/MG (0,8%)
Procurada, a Polícia Civil da Bahia informou que as vítimas de furto e roubo podem registrar as ocorrências em uma Delegacia Territorial (DT) ou na Delegacia Virtual, através do site https://delegaciavirtual.sinesp.gov.br.
Além de roubo, podem ser registrados de forma on-line denúncias de maus tratos contra animais, dano, perturbação do trabalho ou do sossego alheio, acidentes de trânsito sem vítima, injúria racial, violência doméstica contra a mulher, desaparecimento e localização de pessoas, ameaça e vias de fato, perda ou extravio de documentos, furto e estelionato.
O CORREIO perguntou se o dado do IBGE surpreende e a importância do Boletim de Ocorrência para a segurança pública, mas a pasta não respondeu.
Números da pesquisa:
- 148 mil pessoas com 15 anos ou mais foram roubadas na Bahia entre o final de 2020 e dezembro do ano passado (1,3% desse grupo etário);
- 3º lugar ocupa a Bahia no ranking nacional, apesar de o estado tem a 4ª maior população do país;
- 14º lugar é quando a estatística leva em consideração a proporção da população de cada estado;
- 133 mil domicílios têm ao menos um morador que foi furtado no ano passado ou 2,8% do total de residências do estado. Em Salvador são 53 mil;
- 58,4% das residências na Bahia tinham algum dispositivo ou funcionário para segurança em 2021;
- 101 mil domicílios baianos tinham ao menos uma arma de fogo, 7ª menor proporção entre os estados;
- 59 mil pessoas foram roubadas em Salvador. A cidade ocupa a 4ª posição entre as capitais e 8º lugar em proporção de habitantes;
- 1,8 milhão de brasileiros com 15 anos ou mais foram roubados nos quatro trimestres de 2020 e 2021 (1,1% do público nessa idade);