A obra resulta de oito anos de pesquisa de Graciliano Rocha.
O escritor Paulo Coelho está entre os que deram seu depoimento
Salvador recebe no próximo dia 23 o lançamento do livro ‘Irmã Dulce, a santa dos pobres’, a biografia da mulher que se tornará, em 13 de outubro, a primeira santa nascida no Brasil. A obra resulta de oito anos de pesquisa do jornalista Graciliano Rocha, que consultou documentos pelo Brasil, Estados Unidos e Itália.
O lançamento e a noite de autógrafos acontecem na livraria Saraiva do Salvador Shopping (avenida Tancredo Neves, 3133, Caminho das Árvores) a partir das 19h da próxima segunda (23).
Entre os mais de 100 entrevistados estão familiares da freira e importantes representantes dos meios católico, político e empresarial, como o escritor Paulo Coelho, o ex-presidente José Sarney, o banqueiro Angelo Calmon Sá e o empreiteiro Norberto Odebrecht (1920-2014), este último amigo próximo da freira por mais de 50 anos.
O livro retrata a trajetória Irmã Dulce do nascimento em 1914, descreve como ela conseguiu ser considerada santa ainda em vida por causa da dedicação que tinha pelos pobres e oferece detalhes dos dois milagres atribuídos a ela que resultaram na canonização. A revista Veja considerou o livro “a mais completa biografia sobre a freira baiana.”
Nascida em uma família de classe-média alta de Salvador, Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes (seu nome civil) descobriu sua vocação religiosa poucos anos após a morte precoce da mãe, quando tinha sete anos. Ela decidiu que seria freira depois que uma tia a levou para visitar cortiços de Salvador no final dos anos 1920. A obra mostra como Irmã Dulce se transformou em uma das figuras mais influentes do catolicismo brasileiro e reconstitui encontros da freira com Madre Teresa de Calcutá e com o papa João Paulo II.
O livro examina Irmã Dulce além da religião. Trata-se de uma mulher forte e empreendedora, que fundou um hospital, criou um orfanato e era o último recurso de pobres e doentes que não tinham outra porta a bater. Isso foi especialmente importante em uma época em que não existia o SUS e pessoas sem carteira assinada não tinham direito a atendimento em hospitais públicos.
Irmã Dulce antecipou em muitas décadas a chegada das mulheres a posições de liderança em um tempo em que a sociedade relegava um papel subalterno às mulheres. Ela assumia riscos e tinha enorme capacidades de tirar do papel grandes empreendimentos num mundo dominado por homens, sem se deixar dominar por eles.
O livro também conta a história das transformações políticas, sociais e culturais em Salvador e na Bahia ao longo do século 20. O aparecimento do futebol na Bahia, o surgimento e a expansão dos Alagados, a feira de Água dos Meninos e de São Joaquim são algumas das paisagens que estão minuciosamente apresentadas na trajetória do Anjo Bom da Bahia.
A obra também ilumina o perfil político de Irmã Dulce ao examinar a relação da religiosa com o poderoso Antonio Carlos Magalhães e praticamente todos os presidentes da República desde Eurico Gaspar Dutra (1946-1950). De João Baptista Figueiredo (1979-1985), último presidente do regime militar, arrancou risadas e dinheiro para ampliar sua obra. Nenhum político foi tão próximo dela quanto o presidente José Sarney. Ela era uma das poucas pessoas que tinha o número de telefone que ficava na mesa do presidente no Palácio do Planalto.
A extenuante rotina de trabalho e os anos de penitência pessoal cobraram um preço alto de sua saúde. Ao final da vida, seus pulmões operavam com menos de um terço da capacidade e sua morte foi precedida por um ano de muita dor em uma UTI instalada em seu quarto no convento.
O livro também apresenta detalhes e revelações sobre os dois milagres atribuídos à intervenção de Irmã Dulce e que foram reconhecidos pelo Vaticano que levaram os papa Bento XVI a declará-la beata, em 2010, e Francisco a torná-la santa, em 2019.
“A mais completa biografia sobre a freira baiana, que se tornará santa em outubro, mostra uma mulher influente e de pulso firme.”