Resultado oficial do crescimento da economia no ano passado será divulgado na quinta (1º). Para analistas, retomada tende a prosseguir, com expansão até acima de 3% em 2018, apesar das incertezas políticas e eleitorais.
pós 2 anos de retração, a economia voltou a crescer 2017 e inicia o ano com perspectiva de uma recuperação mais robusta em 2018, em meio à contínua retomada do consumo, expectativa de aumento dos investimentos e cenário externo ainda favorável, segundo economistas e analistas de mercado.
Levantamento do G1 com 11 bancos, consultorias e institutos aponta para uma alta de ao menos 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2017 e expansão até acima de 3% em 2018. Veja gráfico abaixo:
O número oficial da variação do PIB em 2017 será divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (1). As estimativas oficiais do governo é de alta de 1,1% do PIB em 2017 e de 3% em 2018.
Se o IBGE confirmar o resultado positivo para o PIB em 2017, será a primeira alta depois de dois anos seguidos de queda na atividade econômica e da mais longa recessão da história do país. Segundo as últimas revisões feitas pelo IBGE, o PIB registrou retração de 3,5% tanto em 2015 quanto em 2061. Essa sequência de dois anos seguidos de baixa só havia sido registrada no Brasil em 1930 e 1931.
Entre os principais fatores que contribuíram para a recuperação da economia em 2017, os analistas destacam, especialmente, a safra recorde de grãos, a queda da inflação, a redução da taxa Selic para mínima recorde, a melhora do consumo, o bom desempenho do setor externo e o início da recuperação do investimento.
“O crescimento em torno de 1%, apesar de baixo, demonstra a consolidação do processo de retomada da economia em 2017”, afirma o José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados.
As projeções da MB Associados estão entre as mais otimistas do mercado: crescimento de 1,1% do PIB em 2017 e de 3,5% em 2018.
“2018 será um ano robusto em termos de crescimento, com base na continuidade da retomada do consumo, expectativa de aumento nos investimentos e dinamismo do setor externo… Os principais motores de crescimento devem ser: o consumo das famílias e o aumento dos investimentos. O principal risco seria a eleição de um candidato populista este ano, que não dê continuidade nas reformas necessárias”
Aumento das previsões
O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), divulgado pelo Banco Central e conhecido como “prévia do PIB”, surpreendeu analistas ao crescer 1,41% em dezembro, na comparação com novembro, acumulando alta de 1,04% no ano fechado de 2017.
Os números melhores do que o esperado e outros indicadores positivos de dezembro levaram alguns analistas a aumentar as previsões de crescimento do PIB de 2017 e 2018.
Para a expansão de 2018, a média da estimativa do mercados subiu pela 2ª semana seguida, de 2,80% para 2,89%, segundo o último boletim “Focus” do BC, divulgado nesta segunda-feira (26).
A consultoria Tendências, por exemplo, elevou as suas projeções para o PIB, de 0,2% para 0,4% no 4º trimestre frente ao 3º trimestre, e de 2,4% para 2,7% na comparação interanual. “Dessa forma, a projeção para o ano passou de 1% para 1,1%, o que interromperia a contração do último biênio de 6,9%, ratificando a gradual retomada econômica ocorrida em 2017”, afirma a economista Alessandra Ribeiro.
A expectativa dos analistas é que a maioria dos componentes que compõem o PIB tenham encerrado 2017 ano azul, com exceção da construção civil, consumo do governo e taxa de investimentos, que ainda deve ter acumulado baixa no ano, apesar da recuperação vista no 2º semestre.
Puxadores do PIB
Entre os principais setores, o grande destaque de 2017 foi a agropecuária, cujo crescimento a economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro/Ibre, da FGV, estima que tenha ficado em 12,8%. Já indústria e serviços, teria registrado alta de 0,1% e 0,3%, respectivamente, segundo a projeção.
Pelos cálculos da economista, se o desempenho da agropecuária fosse retirado do cálculo do PIB, o crescimento no ano teria sido bem menor, na ordem de 0,4%. “A contribuição da agro para o PIB foi praticamente de 0,7% no ano”, estima.
“Apesar da contribuição da agro, no 2º semestre o PIB dos outros setores também passou a mostrar uma evolução, e a avaliação é que vai continuar num ritmo melhor neste ano, até porque não se tem mais números tão negativos como se tinha no início de 2017”
Se no primeiro trimestre, a supersafra foi apontada como o fator que salvou o PIB, no segundo foi a injeção dos recursos do FGTS ajudou o consumo das famílias voltar a crescer após mais de 2 anos de queda. No terceiro, foi a vez do investimento reagir, voltando a subir após 4 anos de baixas.
Já no 4º trimestre, segundo os analistas, os destaques foram a continuidade da recuperação da indústria e da retomada dos investimentos.
Em dezembro, a produção industrial cresceu 2,8% frente a novembro, na maior alta desde 2013. No ano, a indústria brasileira teve alta de 2,5%, após 3 anos seguidos no vermelho e o melhor resultado desde 2010.
“O que pesa na indústria ainda é a construção civil”, afirma Luiz Fernando Castelli, economista da GO Associados, que estima que o PIB da indústria tenha ficado perto de zero em 2017, enquanto que da construção civil caiu por volta de 5%.
“As exportações de manufaturados aumentaram ao longo do ano e as vendas de veículos foram muito bem, principalmente em virtude da recuperação da economia dos países da América Latina como Argentina”, destaca o analista.
Já para a taxa de investimento, a estimativa de Castelli é de alta de 1,7% no 4º trimestre, na comparação com o trimestre anterior, acima da expansão do consumo das familias (0,4%).
“Apesar de algumas incertezas, as empresas começam a desengavetar alguns projetos e estão voltando a investir com base na melhora na confiança e perspectiva de continuidade da queda dos juros”
Perspectivas
É consenso entre os analistas, entretanto, que as perspectivas para 2018 são melhores do que as que se tinha no ano passado, a despeito das incertezas políticas e das dificuldades fiscais do país, ainda mais após o governo ter desistido de tentar aprovar a reforma da Previdência antes das eleições.
“Considerando que que o Brasil é um país emergente, com uma população ativa muito grande e 12 milhões de desempregados, claro que crescer 1% ainda é extremamente medíocre. Mas, dado que tivemos um retrocesso de cerca de 7% em dois anos acumulados, é sim uma vitória”, afirma Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.
Segundo os economistas, o crescimento da ordem de 3% em 2018 é factível, uma vez que o PIB do 4º trimestre deve ter fechado perto disso na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior.
A aposta é que a continuidade da recuperação do consumo das famílias, em meio ao aumento da massa salarial, e o aumento dos investimentos irão garantir que a economia ganhe um pouco mais de tração, apesar do desemprego ainda elevado no país.
“A inflação continua extremamente benigna, com possibilidade de juros baixos por muito tempo ainda. O mercado de crédito e de trabalho também está voltando. Ainda há muito trabalho informal, de pior qualidade, mas neste ano é esperada uma recuperação mais forte do emprego formal. E o cenário externo está ajudando muito. Não tem pressão no câmbio, não tem pressão dos preços e há muita liquidez, o que dá algum tempo para se avançar na parte do ajuste fiscal, e permite que isso não seja um grande problema neste momento”, afirma Silvia Matos