Com sofá, colchões, cama, carrinho de supermercado, malas de roupas, fogões improvisados e até mesmo barraca de camping, famílias inteiras, inclusive crianças, estão ocupando a tradicional praça pública do bairro 2 de Julho, no centro de Salvador. A preocupante situação vem assustando moradores, comerciantes e as pessoas que passam pelo local.
A equipe de reportagem da Tribuna da Bahia foi até o local, constatou que os bancos, calçadas e as ruas, estão com bastante lixo e aspecto de abandono. As crianças ficam pedindo esmolas e dinheiro para as pessoas que precisam transitar pelas calçadas e pela praça do bairro.
O comerciante Joaquim Silveira, conta que a situação vem prejudicando seu comércio local. “As pessoas passam sempre assustadas e não têm coragem de parar aqui na minha banca de frutas. Eu já liguei para prefeitura e denunciei. À noite, o medo das pessoas que transitam por aqui, ainda é maior. Eu percebo que cada dia aumenta mais o número de pessoas morando aqui nas ruas da praça”, relata.
A dona de casa Ana Cláudia, lembra que o Largo 2 de Julho é um bairro histórico e que deveria ter mais atenção dos órgãos públicos no local. “Minha família mora aqui no bairro por gerações. Infelizmente estamos abandonados. Evito sair de casa por conta do mau cheiro e vandalismo na praça.”, disse a dona de casa.
A professora Camila Soares, 32 anos, lamenta a situação de abandono do lugar, “Todos os dias preciso passar por aqui para ir trabalhar. Na volta do trabalho, sempre fico apreensiva de ter que passar de noite nesta rua. As vezes peço um carro por aplicativo, só para chegar no ponto de ônibus e não ter que passar por eles”, lamenta.
Camila frisa, ainda, que ali existem famílias e pode ter pessoas de bem. “É muito complicado a gente ter que julgar os outros. Mas vivemos tão amedrontados, com tanta violência, que fico com medo de me arriscar.
Ainda mais por ser mulher, sozinha e também passando de noite no local”, ressalta a professora.
A Secretaria Municipal de Promoção Social e Combate à Pobreza (SEMPRE), informou em nota que, a equipe do Serviço Especializado de Abordagem Social (SEAS), intensificou as ações de atendimento às pessoas em situação de rua identificada no bairro do 2 de Julho, com a realização busca ativa.
O órgão explica que, as pessoas foram encontradas, mas não aceitaram os serviços socioassistenciais ofertados. “Os técnicos estão realizando abordagens sociais diariamente com o objetivo ofertar serviços, a exemplo de acolhimento provisório, inscrição em programas como Bolsa Família e Auxílio Moradia para sensibilizá-los a sair da condição de vulnerabilidade e risco social”, dizia a nota.
HISTÓRIA
O Largo Dois de Julho é um bairro histórico do Centro Antigo de Salvador, sem delimitação oficial, que envolve o Largo Dois de Julho, propriamente dito, a Praça Gen. Inocêncio Galvão (antigo Largo do Accioli), a Rua Democrata (antiga Rua do Hospício) e áreas em volta, com residências, casas comerciais e espaços culturais. Seus moradores costumam incluir também a área de Santa Tereza como sendo parte do Bairro.
Até parte do século 19, o Largo Dois de Julho era o caminho do Hospício de Jerusalém, fundado em 1724, na Freguesia de São Pedro Velho, e que atualmente abriga o Convento Sagrado Coração de Maria. Muitos artistas e personalidades históricas moraram ou ainda moram aqui. Residia nessa área, por exemplo, o engenheiro baiano José Antônio Caldas, o mais importante engenheiro brasileiro, até o século 18.
O nome Largo «Dous de Julho» (grafado assim mesmo) aparece no Relatório do Presidente da Província da Bahia, de 8 de novembro de 1871, em que passa a administração ao Vice-Presidente Almeida Couto, referindo-se à instalação de um cano geral de esgoto no largo. O uso de aspas no nome poderia indicar uma denominação recente. A partir de 1872, já existiam referências ao Largo Dous de Julho em jornais da época.