quarta-feira, 9 outubro, 2024

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Formação de identidade e consciência sobre o Racismo

“Se posso fazer alguma sugestão, aconselho que abra este livro não para encontrar minha biografia, mas para ouvir as vozes dos que estão ao meu lado.”

A frase está no prólogo do livro “Na minha pele” (Objetivo), que o ator Lázaro Ramos (“Madame Satã”, “O homem que copiava”) publica agora.

E ele completa: “Estas páginas foram elaboradas por várias vozes. É uma narrativa capitaneada por mim, mas que conta com a contribuição de uma série de personagens — alguns famosos e muitos anônimos —, que se reúne aqui para construir um caudaloso fluxo de informações, sentimentos e reflexões”.

Nesta obra de não ficção, Lázaro Ramos relata experiências pessoais e memórias. A partir daí, reflete sobre temas como racismo, respeito às diferenças, consciência individual e coletiva, formação de identidade, família, gênero.

E ele se dirige ao leitor: “Quem é você? Provavelmente nunca saberei, mas o importante é que o milagre aconteceu e agora estamos juntos, vestindo a mesma pele, esta pele que viaja conosco e que nos antecede”.

Leia, abaixo, o trecho inicial de ‘Na minha pele’, de Lázaro Ramos:

“Depois de ouvir deus e o mundo, voltei à editora. Dessa vez, me pediram que contasse mais sobre a ilha de onde vem minha família. Tinham pensado melhor e, talvez, em um primeiro livro, eu devesse falar de mim.

Quase me levantei da cadeira, como um touro preparado para dar uma chifrada. Biografia nem pensar! Isso é um mico, eu sou muito jovem para falar sobre minha vida. Sou uma exceção, e história de exceção só confirma a regra. Fazer mais um livro sobre o ponto de vista de uma exceção não ajuda em nada a questão da exclusão dos negros no Brasil. Meu Deus, como fazer um relato quase autobiográfico sem tornar o texto uma apologia a mim mesmo e a meus pares um pouco mais bem-sucedidos?

Só muito tempo depois surgiram os primeiros esboços deste livro. Afinal, por que não?

(…)

Ter passado a conviver com pessoas que não refletiam sobre o racismo no seu dia a dia me fez buscar argumentos para inserir esse tema nas conversas. Queria que elas percebessem o que para mim era tão claro. Queria dividir sem medo minha sensação de entrar num restaurante e ser o único negro no lugar. Queria mostrar as riquezas da cultura afro-brasileira, da qual eu tanto me orgulho e que é tantas vezes ignorada.

(…)

Esta viagem que começa aqui só é possível porque redescobri um mundo que é meu, mas que não pertence só a mim. Ele é parte de uma busca que todos nós devemos fazer para compreendermos quem somos. Por isso, sempre que eu falar de mim neste livro, estarei também falando sobre você. Ou, ao menos, sobre essa busca saudável por identidades.

Os momentos que soarem mais autobiográficos estão aqui apenas para servir de fio condutor da viagem que fiz para destrinchar esse tema. Se posso fazer alguma sugestão, aconselho que abra este livro não para encontrar minha biografia, mas para ouvir as vozes dos que estão ao meu lado. Estas páginas foram elaboradas por várias vozes. É uma narrativa capitaneada por mim, mas que conta com a contribuição de uma série de personagens — alguns famosos e muitos anônimos —, que se reúne aqui para construir um caudaloso fluxo de informações, sentimentos e reflexões. São pessoas de diferentes idades, profissões, gênero e religiões.

Sei que encontrei em você uma companhia, que escolheu este livro numa livraria, ou o ganhou de presente de um amigo que não teve tempo de procurar outra coisa, ou quem sabe você o encontrou jogado num canto e começou a folheá-lo por acaso. Quem é você? Provavelmente nunca saberei, mas o importante é que o milagre aconteceu e agora estamos juntos, vestindo a mesma pele, esta pele que viaja conosco e que nos antecede.

Espero que aqui você dialogue prazerosamente com outras pessoas. Com elas, além de ter aprendido muita coisa, organizei ideias, pontos de vista e percepções a respeito de como somos afetados individual e coletivamente por simples gestos (sejam eles positivos ou negativos).

A linha que costura este livro é a minha formação de identidade e consciência sobre esse tema, mas que, no fundo, é só um artifício para falar de todos nós.

Por enquanto é isso.

Boa viagem”.

Capa do livro ‘Na minha pele’, de Lázaro Ramos (Foto: Divulgação/Objetiva)
Menor preço: R$ 18,90 (à vista)
Onde: Livrarias Saraiva

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