sexta-feira, 31 outubro, 2025

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Operação Libertas tem alvos na Bahia por tráfico de animais silvestres

Na manhã desta quarta-feira (29), Ministérios Públicos, Polícias Ambientais e órgãos de fiscalização de 11 estados brasileiros deflagraram a Operação Libertas, ação conjunta de combate ao tráfico de animais silvestres. Foram cumpridos 116 mandados de busca e apreensão e 84 alvos foram investigados. A operação resultou na prisão de 18 pessoas – 11 em flagrante – e na apreensão de 755 animais retirados ilegalmente da natureza, em sua maioria aves dos biomas Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica, algumas ameaçadas de extinção.

Coordenada pela Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público de Meio Ambiente (Abrampa) e pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), com apoio da Freeland Brasil e financiamento do Escritório de Assuntos Internacionais sobre Narcóticos e Aplicação de Lei dos EUA (INL), a operação teve participação de órgãos dos estados de Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, Alagoas, Ceará, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhão e Bahia.

Além do tráfico de fauna, foram identificados outros crimes associados, como receptação, falsificação de documentos e sinais públicos, maus-tratos, organização criminosa e porte ilegal de arma de fogo. Também foram apreendidos 37 celulares, quatro armas, 1.230 munições, um veículo, 20 gaiolas, sete armadilhas, três transportadores e documentos falsos.

Entre as espécies apreendidas estão trinca-ferros, papa-capins, azulões, canários-da-terra, curiós, papagaios e araras, estas últimas listadas entre as espécies ameaçadas de extinção. Os animais foram encaminhados a centros de reabilitação do Ibama e órgãos estaduais para tratamento veterinário. Sempre que possível, são devolvidos à natureza; os que não sobrevivem em ambiente natural permanecem em criadouros conservacionistas ou zoológicos autorizados.

“A operação deflagrada hoje é uma resposta contundente do Estado para proteger nossa fauna, essencial para o equilíbrio ambiental. As investigações seguem para consolidar provas e oferecer denúncia criminal pelos crimes de tráfico de fauna, maus-tratos, associação criminosa e lavagem de dinheiro”, afirmou Luciana de Paula Imaculada, promotora de Justiça do MPMG e coordenadora do Projeto Libertas.

Para Juliana Ferreira, diretora-executiva da Freeland Brasil, a ação é um marco de cooperação institucional. “Essa ação integrada demonstra o compromisso sério do Ministério Público brasileiro com o enfrentamento ao tráfico de fauna silvestre, um crime que causa sofrimento a milhões de animais, ameaça espécies inteiras e compromete os serviços ecossistêmicos essenciais à vida”, destacou.

Rota interestadual do tráfico

Dezenove mandados — 17 de busca e dois de prisão preventiva — foram cumpridos em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia, contra 13 pessoas investigadas pelo Ministério Público da Bahia (MPBA) na segunda fase da Operação Fauna Protegida, integrada à Operação Libertas. O grupo recebia animais de Weber Sena de Oliveira, conhecido como Paulista, apontado como um dos maiores traficantes de animais silvestres do país, preso em setembro, na Bahia.

Com mais de 20 anos de atuação no tráfico de fauna, Paulista já havia sido flagrado transportando mais de 1.500 aves e centenas de jabutis. Nesta fase, foi indiciado também por lavagem de dinheiro e associação criminosa, o que amplia as possibilidades de responsabilização penal.

As investigações apontam que o núcleo atuante entre Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro movimentava milhares de animais por ano, com métodos sofisticados de ocultação financeira. A rede era dividida em quatro núcleos: captores, responsáveis por retirar os animais da natureza; transportadores, que realizavam o deslocamento em condições precárias; operadores financeiros, encarregados da lavagem de dinheiro; e receptadores, que revendiam os animais em Salvador, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.

Para o promotor de Justiça da Bahia e coordenador do Centro de Apoio às Promotorias de Meio Ambiente e Urbanismo (Ceama), Augusto César Carvalho de Matos, o sucesso da operação se deve à articulação entre instituições públicas. “Os resultados das operações ‘Fauna Protegida’ e ‘Libertas’ são um reflexo significativo de um trabalho cuja efetividade resulta da articulação interinstitucional, com compartilhamento de recursos técnicos, de inteligência e de pessoal de uma rede de instituições”, pontuou.

Projeto Libertas e combate ao tráfico

O Projeto Libertas, coordenado pela Abrampa e apoiado pela Freeland, atua nacionalmente no fortalecimento da atuação ministerial contra crimes ambientais. A iniciativa oferece capacitação a agentes públicos, elabora manuais de enfrentamento ao tráfico de fauna, realiza análise de rotas e estatísticas e promove cooperação interestadual e internacional para combater redes criminosas.

Balanço geral da Operação Libertas 2025

  • 11 estados: MG, SC, PR, RJ, AL, CE, RS, MT, MS, MA e BA
  • 84 alvos deflagrados
  • 116 mandados de busca e apreensão
  • 18 prisões, sendo 11 em flagrante
  • 755 animais silvestres resgatados, a maioria aves
  • Bens apreendidos: 37 celulares, 4 armas, 1.230 munições, 1 veículo, 20 gaiolas, 7 armadilhas, 3 transportadores e documentos falsos
  • Crimes associados: receptação, falsificação, maus-tratos, porte ilegal de arma e organização criminosa

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