sexta-feira, 18 outubro, 2024

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Paulo Guedes compara funcionário público a ‘parasita’ ao defender reforma

Guedes criticou o reajuste anual dos salários dos servidores que, segundo ele, já têm como privilégio a estabilidade no emprego e “aposentadoria generosa”. O ministro argumentou que a máquina pública, nas três esferas de governo, não se sustenta financeiramente por questões fiscais e, por isso, a carreira do funcionalismo precisa ser revista.

“O hospedeiro está morrendo, o cara virou um parasita, o dinheiro não chega no povo e ele quer aumento automático”, declarou.

A declaração foi dada pelo ministro em palestra na Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV EPGE) no encerramento de um seminário sobre o Pacto Federativo.

Segundo o ministro, sua crítica é compartilhada pelos brasileiros. “A população não quer isso [reajuste automático do funcionalismo público]. 88% da população brasileira é a favor, inclusive, de demissão no funcionalismo público”, disse.

Paulo Guedes se referiu a uma pesquisa Datafolha, divulgada em janeiro, que apontava que, para 88% dos entrevistados, o funcionário público que não faz um bom serviço deve ser demitido.

“Nos Estados Unidos ficam quatro, cinco anos sem dar reajuste e quando dá todo mundo fica ‘oh, muito obrigado’. Aqui o cara é obrigado a dar [reajuste] porque está carimbado e ainda leva xingamento, ovo, não pode andar de avião”, continuou o ministro.

Guedes afirmou que o texto da reforma administrativa será apresentado na próxima semana à Câmara dos Deputados. Segundo ele, é grande a expectativa do governo de rápida tramitação.

“O clima no Congresso é extremamente favorável [à reforma administrativa], ao contrário do nosso clima no ano passado quando nós chegamos com a Reforma da Previdência”, disse.

Já a reforma tributária, que está sendo desenhada pelo Executivo, “é um pouco mais complexa”, segundo o ministro. Ele destacou que ela deverá ser apresentada a um comitê conjunto, formado entre Câmara e Senado.

Servidores reclamam

A fala do ministro gerou repercussão entre os servidores nesta sexta. Em nota, a Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco) disse repudiar as declarações do ministro, afirmando que os auditores exercem “com orgulho e lisura” suas atribuições.

“O assédio institucional que vem sendo praticado pelo Sr. Paulo Guedes em relação aos servidores públicos já ultrapassa os limites legais e merece reação à altura”, diz a Unafisco.

A declaração também gerou reação do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Tipicas de Estado (Fonacate), que pretende acionar a Justiça contra o que considerou assédio moral aos servidores públicos.

“É uma agressão gratuita e desmedida aos 12 milhões de servidores públicos do país. Nós não podemos admitir um nível de insulto tão vil de alguém que deveria zelar pelo funcionalismo público”, disse o presidente do Fonacate, Rudinei Marques.

A Associação Nacional dos Defensores Públicos Federais (Anadef) também se manifestou. “Como servidores públicos que são, os defensores prestam um serviço de qualidade a milhões de brasileiros que necessitam de assistência jurídica gratuita”, afirmou.

“A Constituição Federal prevê que, até 2022, é obrigatória a presença de defensores em todas as cidades em que houver Justiça Federal. Hoje, no entanto, essa realidade só acontece em 30% dos municípios”, disse a Anadef.

A repercussão chegou ainda nos funcionários do Banco Central (BC). O sindicato da categoria, o Sinal, disse que o discurso do ministro foi tendencioso, “recheado de inverdades e vazio de fundamentos técnicos”. Segundo o sindicato, o ministro “quer induzir a sociedade a acreditar, entre outras barbaridades, que o servidor recebe reajuste salarial automático, mas que “o último acordo negociado com o governo data de 2015”.

Já o Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo Federal e do Tribunal de Contas da União (Sindilegis) escreveu que “alguns agentes públicos desconhecem” a qualidade do trabalho dos servidores.

“O Brasil precisa de um ambiente equilibrado e propício aos negócios para se desenvolver. Manifestações como essa vão exatamente no sentido oposto. Nós, servidores, trabalhamos duro todos os dias para dar rumo a este País”, defendeu o vice-presidente do Sindilegis, Alison Souza.

Em comunicado, os Auditores-Fiscais da Receita Federal (Sindifisco-Nacional) afirmaram que o desequilíbrio das contas públicas tem por origem “excessivos subsídios fiscais praticados por anos, em favorecimento de setores econômicos com privilegiada relação com o Governo e com o Congresso.”

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