Fábio Osório Monteiro leva “Bola de Fogo” a evento internacional de teatro de rua na cidade francesa
Depois de participar da 59ª edição do Festival Off Avignon, em julho, a performance “Bola de Fogo”, de Fábio Osório Monteiro, retorna à França agora em agosto, desta vez para apresentações na programação oficial do 38º Festival Internacional de Teatro de Rua de Aurillac, um dos maiores eventos de artes de rua do mundo. No contexto do Ano Cultural Brasil-França, a presença é uma das representações do país, numa obra em que o protagonista – também baiana de acarajé registrada na Associação Nacional das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivo e Similares (ABAM) –, devidamente trajado, monta seu tabuleiro de baiana, prepara a massa do acarajé, frita o bolinho e o vende, oferecendo junto suas histórias, sua dança e seus afetos. Serão quatro sessões, nos dias 20, 21, 22 e 23, no Cour de Noailles, às 19h30 (horário local).
Humor, política, espiritualidade e memória se cruzam em “Bola de Fogo”, que aborda temas como ancestralidade e questões ligadas ao corpo negro, compartilhando pensamentos de um artista que resiste às dificuldades da profissão. O acarajé, alimento sagrado, legado da diáspora africana e da insurgência negra no Brasil, ali se materializa como símbolo de emancipação e oferenda, para alimentar a alma de dendê e resistência. “No candomblé, aprendi que coisas duras podem ser ditas com uma colher de mel na boca”, resume Fábio Osório Monteiro, que performa e assina a direção, com codireção de Leonardo França e cena partilhada com Cíntia Santos, intérprete de Libras em atuação efetiva.
O espetáculo foi estreado em 2017, quando, diante da realidade financeira da vida de artista, Fábio Osório buscou outras formas de subsistência. Como baiana de acarajé – profissão tradicionalmente reservada às mulheres –, ele manifesta um ato político e identitário, subvertendo padrões sociais e de gênero. Feito para ser apresentado em locais a céu aberto, o espetáculo está carregado no corpo, na rebeldia de cada gesto, na convocação dos itans – narrativas sagradas dos Orixás, transmitidas oralmente – e na própria história do artista, que traz luz a existências invisibilizadas enquanto cria uma atmosfera de forte vínculo com a plateia.
No Festival Internacional de Teatro de Rua de Aurillac, Fábio Osório Monteiro também participa da mesa “Corpos dissidentes e criação contemporânea no Brasil”, no dia 22 de agosto, às 10h.
NO BRASIL – Fábio Osório Monteiro também está realizando a circulação “Circuito de Fogo – Das Ruas aos Quilombos”, que leva “Bola de Fogo” a territórios quilombolas brasileiros, de julho a dezembro: Quilombo do Rosário (Pará), Quilombo Mesquita (Goiás), Assentamento da Boa Esperança (Piauí), Quilombo Muquém Serra da Barriga (Alagoas) e Quilombo Quingoma (Bahia). Neste encontro com comunidades que encampam a ancestralidade, a decolonidade e a resistência como tecnologias de existência, as temporadas não apenas incluem apresentações da obra, mas também preveem práticas de trocas e convívio, numa partilha de experiências criativas e de vida. O projeto integra o Circuito Funarte de Dança Klauss Vianna 2023, parte do Programa Funarte de Difusão Nacional, promovido pela Fundação Nacional de Artes (Funarte), vinculada ao Ministério da Cultura (MinC).
SOBRE FÁBIO OSÓRIO MONTEIRO – Ator, dançarino, produtor, baiana de acarajé, negro, nordestino, LGBTQIAPN+ e candomblecista, Fábio Osório Monteiro desenvolve sua carreira há mais de 25 anos em trabalhos com suporte na emoção, humor, fé e política. É um artista interessado em pensar o corpo negro na cena, atuante em diferentes linguagens artísticas. Natural de Salvador, carrega a sua casa-cidade para qualquer lugar do mundo.
Foi indicado na categoria Ator do 33º Prêmio Shell de Teatro pela atuação no espetáculo “Sem Palavras”, da Cia. Brasileira de Teatro, com direção de Márcio Abreu. Foi membro cofundador e integrante da Dimenti Produções Culturais, de 1998 a 2022. Graduado em Administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e mestre em Dança pelo Programa de Pós-Graduação em Dança da UFBA, já colaborou com diversos artistas de destaque internacional.
Em 2010, estreou “Edital”, seu primeiro trabalho solo e autoral. O segundo, “Bola de Fogo”, estreou em 2017, quando também se filiou à Associação Nacional das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivo e Similares (ABAM). Em 2016, participou da remontagem brasileira do espetáculo “The Show Must Go On”, do diretor e coreógrafo francês Jerome Bel. Em 2020, atuou em “Maré”, da Cia. Brasileira de Teatro.
No audiovisual, está no elenco dos longas-metragens “Na Rédea Curta” (2022), de Glenda Nicácio e Ary Rosa, “Receba!” (2021), de Rodrigo Luna e Pedro Perazzo, e “Pinta” (2013), de Jorge Alencar, e dos curtas “Ifá” (2014), de Leonardo França, e “Sensações Contrárias” (2007), de Jorge Alencar. É protagonista da série televisiva “A Lei do Riso – crimes bizarros”, atualmente no catálogo da Amazon Prime Vídeo. Em 2021, atuou e fez a produção executiva do curta-metragem “Via Láctea”, de Thiago Almasy. Na TV, fez participações nas novelas “Segundo Sol” (2018), “A Lei do Amor” (2017), “Haja Coração” (2016), “Boogie Oogie” (2015) e “Alto Astral” (2014).
Em 2021, lançou sua primeira publicação, intitulada “Livro de Fogo – chama histórias”, um livro-objeto criado a partir da performance “Bola de Fogo”, pela editora Conexões Criativas. Como produtor, desenvolveu diversas funções de produção em importantes eventos como Festival Panorama (RJ), IC Encontro de Artes (BA), Festival Dois Pontos (RJ), Mercado Cultural (BA), dentre outros. Em 2016, foi vencedor do Prêmio CBTIJ de Teatro (RJ), na categoria Direção de Produção por “Shtim Shlim: o sonho de um aprendiz”.