segunda-feira, 11 agosto, 2025

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Pintura com Papa abraçado ao ‘diabo’ na Ufba gera polêmica

Publicação feita por um professor da instituição, nesta terça-feira (10), deu abertura à discussão que divide opiniões

Uma pintura nas parede da ‘varadinha’ da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom/Ufba) tem levantado diferentes opiniões entre internautas e membros da comunidade estudantil. A publicação feita por um professor da instituição, nesta terça-feira (10), deu abertura à discussão polêmica.

No grafite, uma representação do ‘diabo’, abraçada ao Papa Francisco, líder supremo da Igreja Católica, parecem ceiar juntos enquanto gargalham. Ao fundo, a imagem sugere o ‘inferno’, com pessoas caindo em chamas, enquanto o céu aparece no topo da pintura, com certa distância. Abaixo, é possível ver baús com moedas de ouro e um gato, no canto da ‘tela’.

Católico e professor de direito da Ufba, Rodrigo Moraes também discorda da presença do desenho em uma parede da universidade pública. “Quando você faz uma obra dessa dentro de uma instituição pública, isso é algo que desperta uma energia muito ruim e você dá asas depois às pessoas começarem a fazer brincadeiras e isso vai gerando uma intolerância religiosa”, opina. “Eu não concordo que uma universidade pública permita que o seu espaço público seja utilizado para ofender professores e alunos católicos, não acho que o espaço seja para isso”, acrescenta.

Em uma outra publicação nas rede sociais, um ex-aluno da faculdade critica a pintura e questionou o uso da figura religiosa. “Quem tem contexto sabe o quão Francisco vem sendo atacado, por pessoas da própria Igreja Católica, por defender as minorias, revisitar temas de direitos humanos e tantas outras pautas. E a Facom, num contexto tão complicado, responde assim?”, questiona.

O estudante de jornalismo, Felipe di Sena, embora tenha reconhecido a beleza e valor artístico da pintura, também questionou o uso da imagem do pontífice. “Eu acredito que se fosse uma imagem de uma pessoa de religião de matriz africana, todas as pessoas diriam que é um ataque, que poderia até ser uma intolerância religiosa, porque muitas pessoas evangélicas já vinculam a imagem da pessoa do candomblé à uma pessoa ‘endemoniada’, mas como é com o Papa, muitas pessoas acham certo”, diz o jovem que afirma ser necessário respeito às diferentes religiões.

Em nota, a Arquidiocese de São Salvador da Bahia informou que está ciente da repercussão da imagem, mas não irá se pronunciar neste momento.

Por outro lado, outros estudantes acreditam que a pintura é importante para manter abertas as portas da liberdade de expressão da arte. “A Facom sempre foi um espaço inclusivo para com a arte e produtos de seus alunos, a manifestação tem por objetivo crítico. O espaço também está aberto a quem quisesse fazer uma arte com motivação de apologia cristã”, argumenta o estudante Davi Klajman, ex-aluno da instituição.

A direção da Facom foi procurada pelo Correio, para esclarecer se há requisitos ou autorização prévia para inserção de uma pintura nas paredes do prédio da faculdade, mas não houve retorno. O espaço segue aberto.

Há ainda, quem esteja aproveitando a estética da obra para criar conteúdos para a internet, como é o caso do jornalista Lucas Dias. “Achei linda, aesthetic. Tirei foto para postar no TikTok”, comenta. “É uma universidade pública federal, esse tipo de manifestação é totalmente comum”, diz o jovem, elogiando o talento do autor da obra.

João Vasconcelos, assinante da pintura, foi procurado pelo CORREIO, mas não houve respostas até a publicação da matéria. Em seu perfil do Instagram, o artistas republicou um story de um amigo, que celebrava o alcance da obra. “Eu amo que a arte do meu incrível amigo artista está gerando polêmica entre os cristãos. Que delícia! João, você é incrível demais! Como artista colaborador dessa arte, tenho orgulho dela!”, escreveu o rapaz.

Pintura na varandinha da Facom Crédito: Paula Fróes/CORREIO

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