sexta-feira, 29 março, 2024

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“Por que o candidato não pode ser de outro partido?”, indaga Rui Costa

A tese de que o ex-presidente Lula pode não disputar as eleições deste ano, deixando clara a necessidade de um plano B doméstico ou externo, foi chancelada pelo governador Rui Costa, nesta terça, 14, em entrevista ao portal UOL, que causou alvoroço entre lideranças petistas e aliados. As declarações de Rui, que vieram a público na véspera do “ato pela democracia”, dentro do Fórum Social Mundial (FSM), que será um movimento político de apoio a Lula, batem de frente com a estratégia oficial do partido de defender a candidatura dele até as últimas consequências.

Rui, que é o principal governador do PT, maior líder do campo da esquerda no Nordeste e candidato à reeleição, também foi de encontro à manutenção do discurso do ‘golpe’. Disse que está na hora de virar a página do momento histórico do impeachment que depôs a ex-presidente Dilma Rousseff. E por um motivo pragmático: os votos daqueles que foram às ruas contra a ex-presidente – sobremaneira a classe média – serão valiosos em outubro.

Rui também chegou a dizer que uma eventual prisão de Lula renderia votos, em razão do aumento do sentimento de “revolta e indignação”. Ou seja, transformaria Lula em herói.

Lula pode ser preso após julgamento do TRF-4, caso o Supremo Tribunal Federal (STF) não defira o pedido de habeas corpus impetrado pelos advogados.

Ao defender essa posição, Rui engrossa a fileira daqueles que, dentro do PT, creem na necessidade de se buscar, logo, um nome substituto, ainda que a candidatura de Lula não seja algo impossível. Já no início da noite de ontem, o ex-governador Jaques Wagner tentou apagar o incêndio e disse a repórteres que Rui está fechado com a candidatura de Lula e que ele apenas “elogiou a candidatura do campo das oposições”, referindo-se à Ciro Gomes (PDT). À noite, a cúpula petista se reuniu em um jantar oferecido pelo governador, no Palácio de Ondina, que contou com as presenças de Lula, Dilma, Gleisi e Wagner, entre outros.

‘Marra’

Na entrevista que concedeu ao UOL, embora defenda que Lula tem condições de reunificar o País, Rui avalia que um suposto candidato substituto poderia até mesmo ser de fora do PT: “Não podemos ficar nessa marra de que, se não há um nome natural do PT e se o Lula não puder ser [candidato], por que não pode ser de outro partido? Acho que pode e acho que essa discussão, se ocorrer, no momento exato, nós vamos fazer”, disse.

Além disso, ele afirmou que o discurso do impeachment já não cabe para cativar novos eleitores: “Nós temos que virar a página daquele momento. Se a gente ficar remoendo o impeachment, nós não vamos nem dialogar com a sociedade”.

Gleisi rebate

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffman, que está em Salvador para o FSM, disse que respeita a opinião do governador, mas rebateu: “Lula não é só candidato do PT, mas do povo brasileiro. Me desculpa a direita, mas eles não conseguem ter candidato. E me desculpa até a centro-esquerda: não consegue ter candidato que tenha condições de fazer a disputa eleitoral”, disparou em relação ao elogio de Rui à candidatura de Ciro.

Gleisi também discordou da virada de página sobre o golpe: “A posição da direção partidária e majoritariamente da nossa militância não é essa. Nós avaliamos que houve um golpe (…) e esse golpe não pode ser esquecido porque ele tem consequências nefastas”.

Já no início da noite, o ex-governador Jaques Wagner falou com a imprensa antes de palestrar em mesa do FSM. Disse que falou ao telefone com o governador durante a tarde, e que Rui esclareceu que “nunca defendeu e continua não defendendo plano B nenhum”.

Wagner também aparou arestas relativas à opinião sobre o discurso do impeachment: “Outra coisa que ele quis dizer é que a gente não disputa a eleição só com a bandeira de combate ao impeachment, que essa bandeira nós já denunciamos (…). O que tem de gente decepcionada, que embarcou na do golpe. Ele disse que tem muito desiludido, não sabe para onde vai. Nós do PT, das esquerdas, temos que apresentar propostas”.

Ao ser questionado sobre Rui ter afirmado que a prisão de Lula renderia votos, Wagner traduziu que quanto mais se bate em Lula, mais ele cresce.

Governador acha que PT “não deve ficar na marra” de que nome ao Planalto tem de ser da legenda.

 

 

 

 

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