sábado, 27 julho, 2024

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Produtora baiana cria a heroína Punho Negro para tratar de preconceito

Em apenas um mês em exibição nos cinemas, o filme Pantera Negra chegou a expressiva marca de um bilhão de dólares mundialmente. O filme já é o sétimo maior sucesso de bilheteria da história no mercado norte-americano. Mas se o Rei de Wakanda vem conquistando fãs no mundo inteiro, aqui na Bahia também ganhamos um super-herói, ou melhor, uma heroína negra, para nos representar.

Punho Negro, uma websérie produzida pelo coletivo Êpa Filmes, traz como protagonista uma mulher negra que acha um tempo na sua agenda diária – onde desempenha o papel de mãe e esposa – para combater os vilões de Salvador.

“Queríamos fazer uma série que falasse da mulher negra e que pudéssemos trazer algumas dessas questões da nossa sociedade machista e racista e pensamos nessa mulher superpoderosa. Principalmente por termos poucas mulheres protagonizando as histórias, principalmente mulheres negras”, conta  Murilo Deolino, diretor da websérie.

Representatividade

A representatividade está presente na série desde o título. O título remete ao punho cerrado dos Panteras Negras, uma organização criada para combater a opressão dos brancos nos Estados Unidos na década de 1960.

“Queríamos trazer uma marca forte da questão da representatividade do povo negro. Punho Negro surgiu disso, um título que inicialmente não tem um gênero definido. Poderia ser um homem como pode ser uma mulher”, conta Murilo.

Carol Alves interpreta Tereza, a Punho Negro. Para ela, uma produção como essa não é apenas mais uma sobre o gênero de super-herói. Carol questiona quantas produções audiovisuais de heróis protagonizadas por mulheres existem e, dentro destas, quantas são protagonizadas por mulheres negras?

“Também não é só a questão de ser uma heroína negra, mas que negros estão pensando nesse roteiro, escrevendo e pautando sua história a partir do nosso próprio olhar”, dispara Carol.

Essa também é uma problemática que Milena Anjos, produtora da série, traz. “A série é fruto dessa resistência e dessa falta de espaço que nós, pessoas negras, temos para falar de nossas dores. A maioria dos filmes e séries que nos retratam na maioria das vezes não é escrita nem dirigida por pessoas negras”, afirma Milena. “Quando Murilo me propôs a ideia de escrever a série, fiquei maravilhada“, finaliza.

Experiência

O coletivo Êpa Filmes está em atuação desde 2012, trazendo sempre em suas produções audiovisuais debates sociais e a representatividade do povo negro. O primeiro trabalho deles é o curta-metragem O Menino Invisível, que conta a história de um menino morador de rua que é ignorado pelos passantes.

“A gente falava de uma questão importante, a invisibilidade social, mas usando essa alegoria do herói, um menino de rua que criava seu uniforme de herói a partir de objetos do lixo. Fazíamos essa metáfora de ser invisível nas ruas”, lembra Murilo Deolino, diretor do curta.

Debate com humor

Apesar de trazer debates importantes, a série Punho Negro consegue fazer isso de forma leve e humorada. Murilo conta que, apesar de já ter trabalhado com questões sociais, o humor é algo novo para eles.

“Como já pensamos em distribuir a série na internet e nas redes sociais, pensamos em usar o humor para falar com um público mais variado”, diz o diretor.

“O público recebe de uma forma melhor certos temas quando são trabalhados de forma leve. Não abrimos um debate se chegarmos apontando o dedo”, diz Milena.

Punho Negro é exibido na página do Facebook e no canal do YouTube da série, com lançamento quinzenal de novos episódios, gratuitamente. A personagem também possui uma conta no Instagram, que é administrada pela própria Punho Negro.

A previsão é que, para a primeira temporada, a série tenha 13 episódios. As histórias se passam no Comércio e na orla de Salvador. Mas locais como Campo Grande e Avenida Sete também farão parte das filmagens. Atualmente a produção está gravando o terceiro episódio.

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