quinta-feira, 21 novembro, 2024

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Tudo pronto para a Festa de Iemanjá, que acontece dia 2 de fevereiro

A associação que organiza a festa e estima receber cerca de 800 mil pessoas.

Está quase tudo pronto para dar início aos festejos em homenagem a Iemanjá, no dia 2 de fevereiro, domingo próximo. O caramanchão que abrigará o presente principal da Rainha do Mar já começou a ser montado ao lado da Colônia de Pescadores Z1, associação que organiza a festa e estima receber cerca de 800 mil pessoas. Os festejos começam um dia antes, no sábado (1º), quando as ruas do Rio Vermelho começam a ser tomadas por fiéis, simpatizantes e demais baianos e turistas que consideram o evento uma das principais manifestações religiosas do país.

Na madrugada de sábado para domingo, o bairro mais boêmio de Salvador vira um verdadeiro Carnaval, quando sagrado e profano se misturam. Milhares de pessoas se reúnem acompanhando as manifestações religiosas, que inclui desfiles de grupos diversos com balaios e presentes que serão levados para Iemanjá. Na programação oficial do evento, consta que a abertura do caramanchão para receber as oferendas ocorrerá a partir das 7h do dia 1º de fevereiro.

No domingo, dia 2, uma alvorada de fogos de artifícios às 5h marca a chegada do presente principal, um segredo mantido a sete chaves pela Colônia de Pescadores Z1, sendo revelado apenas no grande dia. Antes disso, às 2h30, no Dique do Tororó, será realizada uma manifestação religiosa em homenagem a Oxum, a orixá das águas doces.

O presente principal, além dos demais balaios e presentes, serão levados para a Rainha do Mar a partir das 15h30. Centenas de embarcações saem da praia da Paciência para entregar os presentes no fundo do mar. O festejo será encerrado oficialmente às 18h. Tradicionalmente, contudo, a parte profana continua noite a dentro.

A festa que homenageia a Rainha do Mar atrai pessoas de todos os cantos do mundo. Antes mesmo do grande dia, devotos começam a visitar a Casa de Iemanjá, no Rio Vermelho, para acender velas e fazer suas preces. Foi o caso de Elisabete Brandão, 56 anos, e Vanessa Brandão, 25, que estiveram no Rio Vermelho nessa quarta-feira (29). “É uma das festas mais bonitas que já vi. Iemanjá é natureza, tudo que o universo tem de bom. Não sei se poderei vir no domingo, por isso decidi antecipar”, disse Elisabete, antes de acender uma vela de sete dias e fazer suas preces. “Iemanjá representa energia, energia muito boa”, completou Vanessa.

Patrimônio Imaterial de Salvador

E a festa deste ano poderá ser ainda mais especial para baianos e o povo de santo. Realizado há 95 anos, o festejo passa por processo de reconhecimento como Patrimônio Imaterial de Salvador, uma iniciativa da Comissão de Responsabilidade Social da Ordem dos Advogados do Brasil – Secção Bahia. À Tribuna, a conselheira Roberta Casali, presidente da comissão, informou que a Fundação Gregório de Matos emitiu parecer favorável ao pedido no dia 15 de janeiro deste ano.

“O processo foi encaminhado ao prefeito. Nossa expectativa é que o prefeito determine publicar a homologação do Diário Oficial do Município para que a Fundação Gregório de Matos proceda à inscrição no Livro de Registro correspondente. A festa receberá então o título de Patrimônio Cultural do Município de Salvador. Os bens culturais inscritos nos Livros de Registros da FGM deverão ser objeto de um plano de salvaguarda com base no diagnóstico participativo e nas recomendações arroladas no processo de registro. Ações de salvaguarda envolverão pecadores e o povo do Axé visando apoio à sustentabilidade da Festa, melhoria das condições sociais e materiais de sua transmissão e preservação”, explicou.

A reportagem entrou em contato com presidente da FGM, Fernando Guerreiro, que revelou estar realizando reuniões internas para definir se haverá algum tipo de cerimônia para concretizar registro especial, mas até o fim da tarde de quarta (29) nada ainda havia sido definido.

Em entrevistas anteriores à Tribuna, o presidente da Colônia de Pescadores do Rio Vermelho, Marcos Antônio Chaves, conhecido como Branco, afirmou que o reconhecimento “é fundamental para o sucesso” da celebração. “É um evento que mobiliza a Bahia, o Brasil e diversos países de todos os cantos do mundo. Nós temos um cuidado extremo na execução desse evento. Trabalhamos para fazer uma festa com conforto, segurança e tranquilidade”, disse.

Rainha do Mar

Branco também lembrou da alegria compartilhada na festa, o que considera ser um dos destaques para o sucesso. “Seja de qual canto do mundo que seja, as pessoas que frequentam a festa se sentem regozijadas. Quando vem para a Casinha de Yayá, como chamamos a casa ali no Rio Vermelho, é uma alegria. Eu mesmo já tive diversos pintores da França, Holanda, de diversos lugares pedindo espaço para retrataram em seus quadros os procedimentos que estão ocorrendo naquele momento. É uma coisa tão maravilhosa. As pessoas procuram, solicitando que sejam entregues as oferendas, que são de todos os tipos. A gente coloca no caramanchão e leva tudo para colocar no fundo do fundo do fundo do balaio principal”, afirmou.

Organizando a festa há anos, ele fez questão de lembrar quando tudo começou, em 1924: “A pesca ficou muito escassa, um grupo de pescadores, na sua grande totalidade, naquele ano estavam com grande maioria negros alforriados, de uma família de sobrenome ‘Moita’, não conseguiram capturar o pescador, deixando os moradores sem o peixe fresco. A alternativa que eles tiveram foi fazer um livro de ouro, onde foi passado por todos os moradores e veranistas da enseada do Rio Vermelho. Com a arrecadação, contratou uma mãe de Santo chamada ‘Juia de Bogum’ para fazer os procedimentos do axé. Subsequentemente, no dia 2 de Fevereiro, às dez da manhã, respeitando todos os procedimentos da seita, lançaram-se ao mar com uma caixa de sapatos, evidentemente forrada com papel celofane. Num determinado momento, pediram à rainha do mar, mãe das águas, que fizesse com que os peixes retornassem. Um único dia após, o peixe retornou com grande fartura para alegria de todos”, contou.

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