sexta-feira, 29 março, 2024

EXPEDIENTE | CONTATO

“Alternância de poder é fundamental na democracia”

Natural de Alexandria, Rio Grande do Norte, mas com laços políticos com a região de Feira de Santana há mais de 25 anos, o deputado estadual José de Arimateia (Republicanos) caminha para apoiar a candidatura do ex-prefeito ACM Neto (UB) ao Governo do Estado. “Não vamos apoiar partido de esquerda”, afirma. Em seu quarto mandato, ele se diz defensor da saúde, do idoso e dos animais. Como também é bispo evangélico da Igreja Universal do Reino de Deus, também defende a família. “A bandeira principal”, diz. Confira nesta entrevista também transmitida pela TV Alba (canal aberto 12.2 e 16 na Net).

O senhor tem um histórico de atuação no meio evangélico e como consegue conciliar o ministério pastoral com a vida política? 

Quando cheguei aqui, vim pra cuidar tanto da parte espiritual quanto da social que a Igreja tem. E foi aí que a Igreja chegou e disse assim: “Olha, nós vamos ter um candidato a deputado”. Nessa época estava em Feira de Santana e fui transferido pra o sul da Bahia, pra Ilhéus. Cheguei em Ilhéus em 97. E foi na eleição de 98, quando eu cuidava da ABC, Associação Beneficente Cristã, que fazia parte da Igreja Universal, que meu nome foi colocado. O primeiro partido que eu filiei foi o PMDB.

Foi quando se elegeu pela primeira vez.

Pela primeira vez. Fui eleito. Naquela época no cenário político baiano foi uma surpresa, porque geralmente quando a pessoa vai pra deputado estadual ou federal, ele já tem um currículo na vida pública, na política, ou vereador ou foi prefeito. No meu caso, não. Como eu estava na parte evangelística, de pregar o Evangelho, era mais conhecido dentro do segmento evangélico.

O senhor foi eleito como representante da Igreja Evangélica então? 

É, porque na época, além de ter essa representação da Igreja Evangélica, também tinha das associações de bairro, porque eu fazia um trabalho social. E como também já tinha uma experiência com comunicação, fazia um programa de rádio em Ilhéus, programa popular com entrevista e os problemas da comunidade, meu nome foi crescendo e aí juntou o útil ao agradável, fui candidato.

Além da questão evangélica, quais outras causas movimentam seu mandato? 

Primeiro, a gente vem defender a família, a bandeira principal. Fui presidente da Comissão de Saúde [e Saneamento] da Assembleia por quatro anos – geralmente, são dois anos que a gente fica na comissão, mas, devido às atuações, abracei a causa da saúde. E também a causa do idoso. Temos visto a falta de cumprimento do Estatuto do Idoso e isso também foi uma das coisas que me motivaram pra poder lutar. Depois, a causa animal. A gente vê os maus-tratos contra os animais, animais abandonados na cidade, principalmente aqui em Salvador. Na Bahia hoje temos mais de 300 mil animais abandonados. Isso é uma falta de conscientização da população e dos próprios gestores, porque cuidar do animal é cuidar também do meio ambiente. Se a gente não cuida do animal, vamos ter problema sério na questão ambiental.

Como tem sido a eficácia da defesa dessas causas? 

Nós encontramos dificuldades. Quando comecei a me aprofundar na questão do idoso, por exemplo, e saber porque as políticas públicas dos idosos não têm sido cumpridas, você conversa com o prefeito e ele diz que não tem recurso, conversa com o governador e é o mesmo discurso. Foi quando encontramos um grande problema: a maioria dos municípios da Bahia não tem o Conselho Municipal do Idoso. Porque quando cria o Conselho Municipal do Idoso, aquele município pode também criar o Fundo Municipal do Idoso. Pra se ter uma ideia, dos 417 municípios só temos 89 com o Conselho Municipal do Idoso funcionando, e não de forma completa ainda, porque desses 89 só temos uns doze que criaram o fundo. Então, como é que o prefeito pode aplicar as políticas públicas? Não tem como, porque não tem recurso.

E porque falta a formalização dos conselhos municipais.

Primeiro, tem que passar pelo conselho municipal. Depois, cria o fundo municipal. Aí vem a nível de estado, porque quando se trata do conselho, existe o conselho municipal, o estadual e o nacional. Abrange os três poderes. E na Bahia, detectei também, existe o conselho estadual, tudo legalizado, direitinho, funcionando, mas não o fundo. Dos 27 estados só temos 16 com o Fundo Estadual do Idoso e a Bahia é um dos que ainda não têm, apesar de que chegou no mês passado o projeto de lei que vamos aprovar criando o Fundo Estadual do Idoso. Depois de muita luta, sempre cobrando, defendendo o fundo.

Em relação à causa animal, o senhor tem um projeto de lei que proíbe o abate de jumentos. O que justifica esse projeto?

Estamos nessa luta, porque o jumento está pra ser extinto. Você sabe que o jumento é um símbolo do Nordeste. Mas o que vem acontecendo? A matança dos animais pra poder exportar pra países como China e Vietnã. Se não criarmos uma lei assim, vamos acabar com a origem e a importância do jumento.

E as políticas públicas da Bahia já existentes em defesa dos animais?

Faltam, com certeza. Aqui mesmo na Assembleia se eu, dentro do orçamento, direciono uma verba pra atender os centros de zoonose de cada município, essa verba vai como recurso pra saúde pública e não pra causa animal. Se não fosse hoje o trabalho das associações e ONGs protetoras de animais, estaríamos com outro problema mais grave ainda, porque são muitos os animais de rua abandonados. E abandonados por falta de vacina, de uma castração, de um medicamento pra verme. A pessoa de baixa renda não tem condições de comprar. Ela tem que recorrer a quem? Ao poder público. E o gestor não olha para o animal, que é um ser vivo e precisa de atenção. Por isso que agora criei um projeto com políticas públicas para os animais, que vou estar entregando a todos os prefeitos e vai ser como se fosse o fundo do idoso, como acabamos de falar há pouco. Com esse projeto, vai ter como buscar recursos pra causa animal. O projeto está pronto e já mandei uma cópia até pra o governador, pra que possa implantá-lo dentro da própria Secretaria de Saúde.

O senhor é ligado ao grupo político do prefeito Colbert Martins, de Feira de Santana, que apoia a pré-candidatura de ACM Neto ao Governo do Estado. Esse é o caminho que o senhor também segue na sucessão estadual? 

Estamos juntos em Feira de Santana no sentido de apoio ao prefeito Colbert e o nosso partido, o Republicanos, também está em conversação com o ACM Neto, conversa já bem adiantada. Creio que em breve estará sendo anunciada a definição. Porque o nosso partido, um partido de centro, não vai apoiar partido de esquerda. E nós estamos aí nessa conversação com o ex-prefeito ACM Neto que fez um bom trabalho na capital.

O Republicanos desistiu de lançar candidato próprio ao Governo do Estado, tanto que se aproxima do grupo de ACM Neto. E em nível nacional, deve apoiar qual candidato?

No momento, em nível nacional, o Republicanos tem dado suporte ao presidente, porque o Ministério hoje que está aí é do Republicanos.

O Ministério da Cidadania. 

E a gente espera que no estado da Bahia também venha se definir. É uma conversa que ainda não tenho a confirmação, porque vai partir do próprio presidente estadual do partido, que é o deputado federal Márcio Marinho, que sempre está em conversação com o presidente nacional, que é [o deputado federal] Marcos Pereira. Creio que em breve teremos o anúncio oficial sobre qual caminho o Republicanos vai seguir.

O grupo liderado por ACM Neto tem defendido um palanque aberto para abrigar os vários partidos que o apoiam e apoiam nomes a Presidente também de diferentes partidos. Até que ponto essa falta de verticalização provoca impacto negativo na campanha do ex-prefeito, uma vez que o grupo governista trabalha exatamente isso, unindo os nomes do pré-candidato Jerônimo Rodrigues e de Lula, que, historicamente, tem uma boa aceitação entre os eleitores baianos?

Acho que o cenário político este ano vai ter essa diferença. Existe um sentimento de mudança diante desse grupo político que está no poder há 16 anos. A população está querendo isso, que é o que aconteceu com esse mesmo grupo no passado. Você sabe que quando ACM, o avô de ACM Neto, perdeu, já fazia 16 anos que estava no poder. E aí houve a renovação. É o que deve ocorrer com esse grupo político da esquerda, já com 16 anos de governo do presidente Lula, da Dilma, que não resolveram também vários problemas que o Brasil enfrenta. Pelo contrário, criaram um problema sério ao atender mais outros países do que o próprio Brasil. Temos hoje outros nomes a presidente da República, mas acho que o presidente atual é um nome que também vai ter na Bahia a sua representatividade.

Entre os pré-candidados à sucessão do governador Rui Costa, e independentemente de sua preferência, qual está na situação mais confortável?

Desses nomes aí o que vejo que existe mais simpatia e também o desejo por mudança é o de ACM Neto. É um nome que a população da Bahia já conhece pelo desafio que teve quando administrou Salvador e fez em oito anos o que muitos que estiveram no poder não fizeram. Isso já credencia. O sentimento baiano é esse.

Quais as chances de João Roma? 

A política é uma caixa de surpresas. Por exemplo, meu nome em Feira de Santana como candidato a prefeito era o último colocado. Passei por esse problema com as pesquisas e, você sabe, isso na imprensa, na divulgação, na cabeça do eleitor influencia. “Poxa, Arimateia não vai a lugar nenhum”. E hoje sou a terceira via. Então, não podemos subestimar ninguém na política. Temos que acreditar que o que o povo quer da Bahia é um novo governo. O povo da Bahia não quer dar continuidade a um governo que já teve a sua oportunidade. E alternância de poder é fundamental num momento democrático.

E suas futuras pretensões? Vai buscar o quinto mandato? 

Olha, primeiro, confiando em Deus. Sou uma pessoa de muita fé, acho que nada acontece sem a permissão de Deus. Lá mesmo em Feira, se eu era o último colocado nas pesquisas e cheguei em terceiro, é porque Deus, “olha, você vai se preparar mais”. E já estou no quarto mandato. Vai depender do povo da Bahia, mas meu nome vai estar à reeleição pelo Republicanos pra mais um mandato. E, com certeza, estarei fazendo mais do que venho fazendo, no sentido de estar discutindo, ouvindo a população, lutando pela família, pelos idosos, pela causa animal, em defesa de uma Bahia melhor pra todo cidadão baiano.

 

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