quarta-feira, 9 outubro, 2024

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Fechamento de fábrica em Camaçari vai custar quase 700 empregos

Decisão da Petrobras de fechar Fafen afetará a operação de 15 empresas

A Petrobras confirmou nesta terça-feira (20) o projeto de abandonar a produção de fertilizantes, anunciado em 2016. No anúncio, a empresa disse que a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados da Bahia (Fafen-BA), no Polo Industrial de Camaçari, e a de Sergipe (Fafen-SE) serão fechadas até o final do primeiro semestre. Um plano detalhado deverá ser divulgado em abril.

Como justificativa para a decisão que vai afetar diretamente a vida de 675 trabalhadores e 15 empresas, só na Bahia, a Petrobras aponta a operação deficitária das unidades. Só no ano passado foram cerca de R$ 200 milhões de prejuízo na unidade baiana e outros R$ 600 milhões no estado vizinho.

Problema é o gás
Por que razão, então, a Petrobras acumulava prejuízos na Fafen? A produção de fertilizantes só compensa quando o preço do gás natural, principal matéria-prima, é competitivo, explica o diretor de Refino e Gás Natural da Petrobras, Jorge Celestino, em entrevista ao CORREIO. “Sem uma fonte de gás natural barato não se consegue ser competitivo neste negócio”, diz, complementando que este não é o caso do Brasil. “Não à toa que 85% dos produtos consumidos no Brasil são importados”, pondera.

A Fafen utiliza gás natural para produzir amônia, ureia, ácido nítrico, hidrogênio, gás carbônico e Agente Redutor Líquido Automotivo.

“A hibernação da Fábrica de Fertilizantes da Bahia é parte do nosso esforço para focar os investimentos da Petrobras em ativos que tenham menor risco e tragam mais retorno para a companhia. Nosso planejamento estratégico concentra investimentos na produção de óleo e gás no Brasil, incluindo os investimentos para aumento da produção nos campos do Nordeste”, destaca Jorge Celestino, diretor de Refino e Gás Natural da Petrobras.

Foto: Divulgação

O termo “hibernação” é utilizado pela Petrobras porque ela pretende adotar  medidas de conservação para evitar a deterioração dos equipamentos. Para tentar manter a Fafen-BA, a empresa diz que otimizou custos, aumento de produtividade e melhoria de desempenho operacional, “mas o resultado continuou abaixo do esperado e o cenário indica resultados negativos para os próximos anos”.

A Fafen-BA conta atualmente com 275 empregados próprios, de acordo com a Petrobras. O Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro) e a prefeitura de Camaçari estimam outros 400 terceirizados trabalhando na unidade diretamente. A Petrobras se comprometeu em “implementar todos os esforços” para realocar os 275 empregados próprios em outras unidades, podendo então haver mobilidade de estado. Mas o futuro dos terceirizados é incerto. O diretor Jorge Celestino diz que para a empresa é difícil precisar até o número deles. “Nós contratamos o serviço, não os terceirizados, então não saberia dizer quantos serão afetados”, respondeu.

“O primeiro impacto perceptível são os empregos. Esses postos de trabalho não existirão mais. Para além desses empregos diretos, existem outros que são gerados através do funcionamento da fábrica, como manutenção de carros, peças, válvulas etc. Os terceirizados serão sumariamente demitidos, já os concursados nós temos algumas dúvidas”, afirmou o presidente do Sindipetro, Deyvid Bacelar.

Clientes da Fafen
Pelo menos 15 empresas são listadas pelo Sindipetro como diretamente prejudicadas pela hibernação da unidade. A produção de amônia é necessária para Oxiteno, Acrinor, Proquigel, IPC do Nordeste e PVC. A ureia é utilizada na Heringer, Fertpar, Yara, Masaic, Cibrafertil, Usiquímica e Adubos Araguaia; e o gás carbônico, na Carbonor, IPC e White Martins.

Em nota, a Petrobras afirmou que o abastecimento do mercado de ureia fertilizante será feito por importação, “sem prejuízo para as companhias misturadoras de adubo”. A Petrobras informou que realizará investimentos no Porto de Aratu para viabilizar a importação de amônia e o atendimento ao Polo Petroquímico de Camaçari. Para CO2, há alternativas de suprimento no Polo.

Jorge Celestino disse ter conversas adiantadas com a Codeda e com a Secretaria de Infraestrutura do Estado da Bahia (Seinfra) para viabilizar os investimentos no Porto de Aratu. A Codeba disse que tem um contrato em vigência com a Fafen e que está em tratativas com a Petrobras para viabilizar as operações de importação.

Governos tentam reverter decisão
Numa mobilização que passou tanto pelos governos da Bahia e de Sergipe, quanto pela prefeitura de Camaçari, o poder público se movimentou nesta terça para tentar reverter a decisão anunciada pela Petrobras de fechar as fábricas de fertilizantes da Bahia e de Sergipe (Fafen-BA e Fafen-SE). Em Camaçari, foi realizada uma audiência pública durante a tarde. Outra reunião foi realizada entre o sindicato dos petroleiros (Sindipetro) e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE).

“Os senadores da Bahia, Sergipe e Paraná (estados em que fábricas estão sendo fechadas pela Petrobras) irão se reunir amanhã (quarta) conosco lá no Senado Federal para discutir a mobilização da questão na Casa”, destacou o presidente do Sindipetro, Deyvid Bacelar. Além disso, estão previstas reuniões entre os governadores da Bahia, Rui Costa, e de Sergipe, Jackson Barreto, com o presidente da Petrobras, Pedro Parente.

Na segunda, o governador Rui Costa se posicionou sobre o assunto durante uma transmissão pelo Facebook. Ele disse ter recebido a notícia com “profunda preocupação e indignação”. Para ele, a decisão vai provocar  “a médio prazo, a elevação de preços agrícolas em decorrência da dependência externa”.

Landulpho Alves ainda corre risco
A diminuição no tamanho da participação da Petrobras na economia baiana parece ser um caminho sem retorno.  No final de fevereiro, funcionários da estatal produtora de petróleo chegaram a se mobilizar para evitar o fechamento de parte da Refinaria Landulpho Alves, em São Francisco do Conde. A unidade é responsável por 99,32% do refino de petróleo na Bahia e é a segunda maior refinaria do país.

Foto: Evandro Veiga/Arquivo CORREIO

Assim como a Fafen, a Rlam está em um declínio de produção, reduzindo em cinco anos 30% de sua produção. Em 2013, aproximadamente 109 milhões de barris de derivados eram processados na Rlam, de acordo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). No ano passado, foram pouco mais de 76 milhões. O volume produzido em 2017 retrocedeu ao mesmo patamar registrado em 2003, quando foram produzidos 75 milhões de barris.

Para o economista e professor da Universidade Federal da Bahia Oswaldo Guerra, a unidade ainda corre risco de ser fechada. “Eles deixaram bem claro que a prioridade deles é com relação à produção do petróleo e não das outras etapas dele”, lembrou. “Isso é uma questão econômica, se não dá lucro, não vale a pena”.

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