Destinatários de 105 milhões de votos no segundo turno da eleição presidencial de 2014, a presidente cassada Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB-MG) passaram, em apenas quatro anos, dos papéis de protagonistas para os de coadjuvantes no jogo político nacional. Mantido o cenário atual, tanto Dilma quanto Aécio devem ficar de fora da disputa eleitoral deste ano.
As trajetórias individuais da petista e do tucano refletem as reviravoltas desde 2014, período no qual o País saiu de uma relativa tranquilidade institucional, foi chacoalhado por eventos como Lava Jato, impeachment, crise econômica sem precedentes, crescimento do antipetismo e da extrema-direita, rejeição ao governo do MDB, e chega à eleição seguinte em um quadro de muitas dúvidas.
Neste cenário, Dilma, alvo de um processo de impeachment, e Aécio, denunciado por corrupção e obstrução da Justiça na Operação Lava Jato, são dados como peças fora do tabuleiro.
A petista, que cogitava concorrer ao Senado por Minas, seu Estado natal, foi barrada pelo seu próprio partido. “Dilma não é candidata a nada. Pelo menos por Minas não vai ser”, disse o deputado Reginaldo Lopes, coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral do PT mineiro.
“Acho que ela já cumpre um papel grande como ex-presidente golpeada. Não sei se precisa de papel no Parlamento, nessa mediocridade que caminhamos”, acrescentou o parlamentar, que também deseja ser candidato ao Senado por Minas.
Segundo Lopes, o governador Fernando Pimentel (PT), amigo pessoal de Dilma, negocia ampla aliança de partidos para tentar garantir sua reeleição, em que estariam MDB, PR, PRB, PCdoB e PV, e, por isso, precisa das duas vagas ao Senado para negociar apoio. Na avaliação de petistas, a vaga se tornou ainda mais valiosa após o ex-governador mineiro e senador Antonio Anastasia (PSDB) decidir articular candidatura ao Palácio Tiradentes neste ano.
Crise
Em conversas reservadas, petistas dizem que Pimentel não quer que Dilma contamine a disputa estadual com temas nacionais, especialmente a crise econômica nascida durante o governo dela. A presidente cassada também foi excluída da chapa majoritária do PT no Rio Grande do Sul, Estado onde construiu carreira política e fixou seu domicílio eleitoral.
Petistas avaliam que uma saída seria Dilma ser candidata ao Senado por algum Estado do Nordeste, mas ela própria tem afastado a ideia, segundo interlocutores. Há, no PT, quem pregue até uma candidatura à Câmara. “Defendo que ela seja candidata até a deputada federal, para ajudar a eleger uma bancada grande aqui”, disse José Guimarães (PT-CE).
Mas, segundo pessoas próximas, Dilma nem considera a hipótese. A assessoria da petista disse que ela não definiu se será ou não candidata e que a decisão será tomada junto com a direção do PT. Para assessores, será difícil Dilma ser candidata por algum Estado do Nordeste.
Desgaste
Aliados de Aécio dizem que o senador desistiu de concorrer à reeleição em função das negociações para que Anastasia dispute o governo de Minas. Anastasia se recusava a entrar na campanha com Aécio na chapa, temendo o desgaste provocado pelo grampo no qual o ex-candidato a presidente aparece pedindo R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, do Grupo J&F. A informação foi antecipada pela colunista do Estado Vera Magalhães.
Em condição de anonimato, tucanos dizem que foi o próprio Aécio quem avaliou ser mais importante se concentrar em sua defesa jurídica em vez de se expor numa campanha eleitoral.
Para integrantes da Executiva do PSDB, o senador tem condições de provar sua inocência na Justiça e voltar à carreira política. Com isso, a tendência é de que ele fique alheio à eleição ou, no máximo, concorra a deputado federal. “Pelas conversas que tivemos com Aécio, ele colocou o projeto de Minas em primeiro lugar”, disse o presidente do PSDB-MG, deputado Domingos Sávio.
“Ele (Aécio) diz com todas as letras que, neste momento, se preocupa em dar sua contribuição para que a gente possa resgatar Minas para os mineiros. O senador Aécio vai decidir ainda. E ele, obviamente, tem o nosso respeito. Se ele se decidir pela candidatura ao Senado, a candidatura dele não tem que ser colocada em discussão, é uma candidatura natural”, afirmou o dirigente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.