sexta-feira, 29 março, 2024

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Gagliasso é delegado em Marighella: “Meu personagem é o oposto de tudo que prego”

Ator está na Bahia para filmar série da Netflix
Bruno Gagliasso nunca recebeu oficialmente o título, mas já pode ser considerado cidadão baiano. Nascido no Rio de Janeiro, o ator, de 39 anos, vem à Bahia com frequência e já viveu em Salvador por um ano quando era criança. “Sempre tive uma relação muito forte com a Bahia e meus grandes amigos são baianos. Tenho grandes referências aqui e amo este lugar”, revela o galã, que desfrutava de uma fazenda paradisíaca deste mesmo amigo, em São Gonçalo dos Campos – a 108 quilômetros de Salvador , enquanto falava com o CORREIO.

Desta vez, ele chegou ao território baiano para gravar em Salvador a série Santo, pela Netflix, que deve estrear no segundo semestre do ano que vem. E também está aqui para participar da pré-estreia do filme Marighella, nesta segunda-feira à noite, no Teatro Castro Alves, em sessão para convidados. O filme estreia no dia 4 de novembro em cerca de 300 salas.

No longa-metragem dirigido por Wagner Moura, o papel principal do guerrilheiro baiano ficou com Seu Jorge. É a cinebiografia de Carlos Marighella, que também foi deputado e poeta e foi assassinado pela ditadura militar em 1969. O filme é uma adaptação do livro Marighella – O Guerrilheiro Que Incendiou o Mundo, de Mário Magalhães.

Delegado

Gagliasso interpreta o delegado Lúcio, um personagem fictício que representa o torturador Sérgio Paranhos Fleury, policial do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) que liderou a operação que culminou com a morte de Marighella, em 4 de novembro de 1969.

Gagliasso diz que seu personagem representa a escória: “Ele é o que há de mais perverso e ruim. Reúne as características de todos os ‘heróis’ de nosso presidente da República”, provoca o ator. Fleury carregou a fama de torturador e assassino.

Para o ator, interpretar um personagem tão “pesado” não foi fácil. O ator diz que este “peso” permanecia mesmo quando deixava o set de filmagens.

Marighella foi rodado em 2017 e sua estreia foi adiada duas vezes. Acabou sendo exibido pela primeira vez no Festival de Berlim e depois passou por outras mostras em cidades como Seattle, Hong Kong, Sydney e Santiago. Gagliasso não hesita em dizer que esse atraso na estreia acontece por causa do governo federal, que, segundo ele teria censurado o filme, através da burocracia. “Hoje, há várias formas de censurar. Pode ser por exemplo, através de maneiras burocráticas. Não sou eu nem Wagner que diz isso. Isso está muito claro!”, fala, em tom irritado.

Gagliasso relata que empresas receberam ligações para não apoiarem o filme e que durante as filmagens, a produção recebia ameaças de que o set seria invadido.

Resistência

Para o ator, o filme tornou-se um símbolo de resistência, tal qual seu personagem principal. “O filme é a prova de que vale a pena lutar e resistir. Olha o momento políticos que vivemos, a gente de um desgoverno. Mas a arte e a história são implacáveis”, diz, em tom de alerta. E aproveita para convocar o público para os cinemas: “Vamos ao cinema! Marighella é brasileiro e não podemos deixar a história dele se apagar, porque a história dele é a história do Brasil.

O contrato de Gagliasso com a Globo se encerrou em outubro de 2019 e não foi renovado. Ele ficou então livre para trabalhar em outras emissoras e serviços de streaming. Além de estar filmando Santo, série espanhola original da Netflix, já gravou Marea Negra, pela Prime. Seus contratos agora são por obra, ao contrário do que ocorria na Globo, em que era assinado por um determinado tempo.

Por questões contratuais, ele não entra em detalhes das produções. Diz apenas que, em Santo, ele interpreta um delegado federal que se junta a um policial espanhol para ir atrás de um narcotraficante.

Mesmo com a agenda cheia, o ator faz questão de reservar um tempo para a família, que está com ele na fazenda baiana. Casado com Giovanna Ewbank, eles têm três filhos. O mais novo é Zyan, de um ano. Antes, eles já adotado duas crianças nascidas no Malawi, na África: Bless e Titi. “Adoção é amor. A gente não programou, mas aconteceu. Não programamos, mas aconteceu, como o amor acontece”.

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