quinta-feira, 28 março, 2024

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Presidente Vladimir Putin no centro do palco: O grande conector para toda a Eurásia

Pepe Escobar, Asia Times e The Vineyard of the Saker
Na sua tradicional conferência com a imprensa em Moscou, já convertida em sua marca registrada, o presidente Vladimir Putin da Rússia mais uma vez ofereceu pérolas seletas de política externa, essenciais para que se compreenda o que há pela frente no turbulento tabuleiro de xadrez geopolítico eurasiano.

Já se sabe que Putin é candidato às eleições marcadas para 18 de março (“os candidatos se autoapresentam” e “espero contar com o apoio dos eleitores”). O Homem no Timão pode, pois, continuar no timão. Assim sendo, interessa muito acalmar a gritaria. Sentem, relaxem e apenas ouçam.

Sobre o presidente Trump: “Trump e eu estamos em clima de nos tratar pelo primeiro nome. “Você”, familiarmente. Espero que ele aproveite a chance para melhorar as relações com a Rússia. Vejam os mercados, como cresceram. Significa que os investidores confiam na economia dos EUA, o que significa que confiam no que ele [Donald Trump] está fazendo nesse campo.”

Sobre o [escândalo] Russia-gate: “O que haveria de estranho nisso [em diplomatas conversarem com funcionários nos países onde os diplomatas vivem]? Por que essa histeria do ‘espião russo’? Quanto a acusações de interferência dos russos nas eleições presidenciais dos EUA em 2016, Putin disse: “Foram inventadas por gente interessada em deslegitimar Trump. Esse pessoal não compreende que estão agredindo o próprio país deles – não estão mostrando respeito algum pelos norte-americanos que votaram em Trump.”

Sobre trabalhar com Washington: “Rússia e EUA podem trabalhar bem próximos em várias questões, mesmo sem deixar de considerar as “bem conhecidas limitações” que Trump enfrenta.

Sobre a possível retirada dos EUA do Tratado das Forças Nucleares de Médio Alcance: “Ouvimos sobre os problemas com o Tratado das Forças Nucleares de Médio Alcance. Aparentemente estão sendo criadas condições e uma campanha de informação-propaganda está em andamento para uma possível retirada dos EUA, daquele tratado. Nada há de bom sobre uma retirada dos EUA, que seria altamente prejudicial para a segurança internacional. Os EUA de fato já deixaram o Tratado, com a instalação do sistema Aegis, mas a Rússia não vai deixar o Tratado. Não seremos arrastados para uma corrida armamentista.”

Putin destacou que a defesa da Rússia custou US$46 bilhões/ano. Os EUA planejam gastar $700 bilhões em 2018.

Sobre o Ártico: “Visitei [o arquipélago Ártico] Franz Josef Land; há muitos anos guias estrangeiros, acompanhando grupos de turistas estrangeiros, diziam que aquelas ilhas ‘passaram recentemente’ a pertencer à Rússia. Esqueciam que [Franz Josef Land] é um arquipélago russo, mas cuidamos de fazê-los lembrar, e no momento está tudo bem. Não devemos esquecer isso. Desenvolver todos aqueles recursos no Ártico tem de ser feito em sincronia com cuidar do ambiente… Não devemos impingir atividades econômicos a minorias étnicas.”

Sobre a Ucrânia: “As autoridades em Kiev não têm vontade de implementar os acordos de Minsk, nenhuma vontade de lançar um processo político real, completá-lo pode ser a implementação de um acordo sobre o status especial do Donbass, que está consagrado na lei relevante da Ucrânia, adotada pelo Parlamento [Rada] ucraniano. Russos e ucranianos são basicamente um só povo” (ouvem-se aplausos e gritos de aprovação).

Sobre a Síria: “Os EUA não estão contribuindo suficientemente para resolver a crise síria. É importante que nenhum dos participantes nesse processo [de paz] sírio tenha vontade ou seja tentado a usar grupos terroristas ou paraterroristas radicais para alcançar seus objetivos políticos imediatos.”

Sobre o Iraque: “Digamos que os militantes estão partindo para o Iraque. Dissemos aos nossos colegas dos EUA, ‘os militantes foram por esse, e esse e tal, caminho.’ Não há reação. Como se eles [os militantes] estivessem simplesmente indo embora… Por quê? Porque pensam que eles poderão ser usados na luta contra [o presidente sírio Bashar] Assad. Isso é muito perigoso.”

Sobre a Rússia estar possivelmente influenciando a Coreia do Norte para que abandone seu programa nuclear: “Seus congressistas, senadores tão elegantes, ternos tão bonitos, camisas, todos aparentemente muito espertos. E nos põem ao lado da Coreia do Norte e Irã. Ao mesmo tempo, empurram o presidente [dos EUA] a nos persuadir a resolver os problemas da Coreia do Norte e Irã juntos.”

Sobre uma RPDC nuclear: “Sobre a Coreia do Norte, não a aceitamos como país nuclear. Quanto aos EUA, foi além de acordos anteriores [com a República Popular Democrática da Coreia]… e provocaram a Coreia do Norte a que saísse dos acordos. Acho que ouvimos que os EUA poriam fim a manobras militares, mas não, não aconteceu. É vital agir muito cuidadosamente quando se lida com o programa nuclear da RPDC.”

Sobre a China: “Tenho plena consciência de que a cooperação com a China vai além de qualquer agenda política. Sempre seremos parceiros estratégicos, por um longo período de tempo. Temos abordagens similares para o desenvolvimento do sistema internacional. Estamos ambos interessados em projetos [econômicos] conjuntos, incluindo a integração de Um Cinturão Uma Estrada e a União Eurasiana.”

Montando a trilha sonora da integração

E isso nos leva ao coração do Novo Grande Jogo na Eurásia: a parceria estratégica Rússia-China, mais uma vez reafirmada, e o aprofundamento da integração entre as Novas Rotas da Seda, antes chamadas Um Cinturão Uma Estrada, agora Iniciativa Cinturão e Estrada, e a União Econômica Eurasiana, UEE.

Putin é claramente positivo sobre os benefícios para a Rússia a partir dessa interpenetração econômica. Observou como “a Rússia conseguiu superar grandes crises: o colapso dos preços para fornecedores de energia e sanções comerciais. Mas o país está andando na direção certa, com foco maior sobre a produção doméstica. Nosso comércio interno cresceu 3%. Deve significar alguma coisa.”

Destacando que Moscou está completamente a bordo da Iniciativa Cinturão e Estrada, Putin deixa implícito que essa cooperação extrapola seja o grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul [grupo dos quais a CIA tenta arrancar o Brasil, por golpe de Estado para mudança de regime, ainda em curso (NTs)]) seja também a Organização de Cooperação de Xangai, OCX; e é aí que devemos localizar os esforços correntes de Moscou para convencer Nova Delhi – também membro dos BRICS [grupo dos quais a CIA tenta arrancar o Brasil, por golpe de Estado para mudança de regime, ainda em curso (NTs)] e da OCX – de que apostar na Iniciativa Cinturão e Estrada favorece os interesses da Índia.

Ainda recentemente, essa semana em Nova Delhi, depois que um encontro trilateral com os ministros de Relações Exteriores da China Wang Yi e da Índia Sushma Swaraj, Sergey Lavrov disse claramente: “Sei que a Índia tem problemas, discutimos esse plano hoje, com o conceito de Um Cinturão Uma Estrada, mas o problema específico quanto a isso não deve condicionar todo o restante à resolução das questões políticas.”

Nova Delhi tem de estar ouvindo, como uma das mais firmes aliadas de Moscou durante a Guerra Fria.

Num desenvolvimento paralelo, o Irã deve integrar-se à União Econômica Eurasiana no início de fevereiro, segundo Behrouz Hassanolfat, diretor do Departamento Europa e América da Organização de Promoção do Comércio do Irã, como noticiou a Agência da República Islâmica.

Como Asia Times noticiou, Índia e Irã estão cada vez mais sincronizados economicamente, via uma Rota da Seda paralela para a Ásia Central, centrada no porto de Chabahar. O Irã é também entroncamento essencial da Iniciativa Cinturão e Estrada, e agora se tornará também entroncamento da União Econômica Eurasiana.

Assim como Pequim em relação à sua Iniciativa Cinturão e Estrada, Moscou está numa ofensiva de charme para ampliar a União Econômica Eurasiana. Turquia – já a bordo da Iniciativa Cinturão e Estrada – é possível candidata para o futuro próximo, assim como Índia e Paquistão.

Mesmo com Putin na Conferência de Imprensa mais uma vez falando sobre a causa dessas polinizações cruzadas da integração eurasiana, a Índia às vezes pode dar a impressão de ser o parceiro pouco confiável. Nova Delhi acaba de hospedar a primeira Cúpula de Conectividade Índia-Associação de Nações do Sudeste Asiático, que pode ser interpretada como tentativa para ir contra a Iniciativa Cinturão e Estrada. Mas o surgimento de um bloco anti-China no Sudeste Asiático parece fantasiosa.

Paralelamente, Moscou com certeza não vê com bons olhos algo que sugira que esteja sendo criada uma aliança “Indo-Pacífica” EUA/Índia/Japão. A narrativa subterrânea no script de Putin não poderia ser mais perfeitamente clara: o mapa do caminho para a integração da Eurásia tem a ver com a aproximação de todos esses grupos, Iniciativa Cinturão e Estrada, a União Econômica Eurasiana, a União de Cooperação de Xangai e os BRICS [grupo dos quais a CIA tenta arrancar o Brasil, por golpe de Estado para mudança de regime, ainda em curso (NTs)]. *****

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