quinta-feira, 18 abril, 2024

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Receita de quiabo frito para ficar em casa com medo do coronavírus

Velho! Senta aqui, ao meu ladinho, e confesse: alguma vez na sua vida você pensou que ia ver o mundo dar uma ‘paradeira’ dessa, com a quase totalidade das pessoas num casulo, dentro de casa e morrendo de medo de uma praga medonha, matadeira? Diz aí, fio, se é ou não o fim dos tempos?

O ‘trem’ começou lá na China, ganhou o mundo e, encontrando aqui um clima maravilhoso, fez acampamento no Brasil onde já matou um bocado de irmãos e deixou o restante com o coração na seringa.

O medo é tanto que mãe não beija filho, amigos batem cotovelos quando se encontram e até marido safadinho deixou de procurar ‘dengo’ fora de casa e tá fogoso com a mulher. E vice-versa, he-he. Milagre dos tempos de Covid.

Qualquer ‘gripezinha’ (como ‘o outro’ chama a pandemia) já deixa o povo preocupado, a família entra no casulo – cada um na sua solidão – e fica vendo o mundo pela televisão, que é hoje o elo de ligação. Nunca levei tanto tempo assistindo tevê na minha vida. Se perguntar qualquer coisa dos programas, dos filmes, ou da Globoplay, eu dou um show de informação.

Ah! E foi futucando no Globoplay que descobri a novela Tieta do Agreste – que na época que foi veiculada (trinta anos atrás) eu não vi pois vivia entre A Tarde e as aulas na UFBA – e estou apaixonada pela história. A nossa televisão realmente merece prêmio. Tem produtos especiais, maravilhosos. Se passasse novamente, garanto que Tieta ia ter grande audiência. Betty e Reginaldo Faria, José Mayer e Joana Fomm (maravilhosa como Perpétua), estão fantásticos. Mangue Seco – que lugar lindo – era o paraíso do agreste com gente divertida e treiteira. O elenco todo está um show.

Mas no meio da tarde, pulo para ver a reprise de Êta Mundo Bom, com Candinho e seu jumento dando show de interpretação; aí só paro depois de Fina Estampa, já pra ir para a cama passear pelos canais. É isso, fio, passei a vida trabalhando o dia todo, não sabia o que era novela e só via na tevê os noticiários jornalísticos. Isso, quando podia, quando não tinha aula ou trabalho extra, o que era raro. Hoje, com o dia inteirinho fazendo nada, enfiando espirro em fio de náilon, deixei os livros um pouco de lado pois me distraio com as palavras cruzadas e com a televisão. Tô uma ‘televiseira’ de primeira linha.

A outra grande distração agora é falar com a família em grupo, pelo WhatsApp. Aí, a gente tem as noticias e atualiza as fofocas da cidade e dos amigos. O bom é que falamos com a galera toda vendo as carinhas na telinha. Mata a saudade. Parece que a gente tá juntinho, em casa. O progresso traz essas maravilhas para a nossa vida. Gente que eu não via há 500 anos, quando ligo no zap… ‘ói nois aqui tra veiz’. Tá todo mundo alí, bonitinho, sorridente, um pouquinho mais velhinho, mas se achando lindinho. Até Carmen, minha irmã, está achando o cabelo branco dela lindo. Mas diz que vai pintar pois quer parecer uma menininha. Pode, froide?

Aí aproveito e, quase todo dia, ligo para amigos de Juazeiro, Ilhéus, Feira e Jequié; falo com Paulo, meu irmão, e Nino em São Paulo; fofoco com Eni Lane, Roberto e Aliana no Rio, e com Fátima Leão no Recife; e entro no trololó com Lula, Zé Braitt e os amigos de Ibicaraí, alternando com Don’Ana em Itabuna; finalizo trançando no papo com Vanuzia, Claudinha, Carmen e Flavinha em Vitória da Conquista. Quer mais, véio, ou que me endoidar com mais ligações? Mas eu ‘gostcho’ do lero. Como não há mal que não traga um bem, estamos vendo que a Covid está promovendo a união das pessoas, acredite.

Olha pra mim: eu ainda estou ‘normal’, não estou, meu lindinho? Ou estou com cara de doidona? Quase quatro meses sem sair de casa, apavorada de medo (pois tenho imunidade baixa com tanta cirurgia que já passei na vida), fico pensando se o meu ‘miolo’ tá batendo certinho. Tenho medo das bobagens que a solidão pode fazer conosco, mas confio que sairemos desse ‘recesso parlamentar’ com as relações familiares mais fortalecidas, com os amigos mais próximos e encontrando mais fraternidade entre as pessoas.

E para comemorar este momento, vamos preparar esta receita que vai unir a família ou melhorar seu humor nesta solidão em que nos vemos agora, onde duas pessoas já é multidão, he-he. Liguei para as irmãs Carmem e Ana e discutimos qual a receita que cai melhor nesta quarentena.

Pedi uma receita diferente mas que deixe nosso corpitcho satisfeito. E veja o que Carmen achou no caderninho de receita dela. Escolhi esta sugestão, meu gostosinho, porque nunca mais dei receita de quiabo. Inda mais, estranha, de quiabo frito. Veja com atenção e faça uma surpresa para sua neguinha lhe dar mil beijinhos e ficar mais feliz dentro do seu casulo. Xero no cangote.

Receita de quiabo frito para ficar em casa com medo do coronavírus


Foto: pxhere/Creative Commons

Quiabo frito com bolinhos de carne moída

Ingredientes
— 
80 quiabos pequenos e macios
— Uma cebola grande cortada em cubos
— 4 dentes de alho partidos ao meio
— 2 dentes de alho grandes, machucados com uma colher (chá) de sal e uma colher (chá) de semente de coentro seco
— 300g de carne moída sem nervo (miolo de patinho)
— Uma xícara de tempero verde picado (cebolinha, salsa, coentro), óleo e sal a gosto
— Suco de dois limões médios
— Meia colher (chá) de pimenta síria e pimenta do reino
— Meia colher (chá) de canela em pó.

Modo de preparar:

1 – No dia anterior, lavar os quiabos em água corrente, escorrer, e colocar para secar ao sol; no dia seguinte, fritar os quiabos em óleo quente e escorrer em espumadeira. Reservar.

2 – Temperar a carne moída com os temperos verdes picados, a pimenta síria, a do reino, a canela e o sal; misturar bem e fazer pequenas bolinhas, apertando-as na palma da mão para achatá-las. Reservar.

3 – Colocar numa panela 3 colheres (sopa) de óleo (pode ser o que sobrou da fritura dos quiabos), as cebolas em cubos e os dentes de alho partidos aos meio e levar ao fogo até dourar. Reservar.

4 – Na frigideira que fritou os quiabos, fritar um pouco os bolinhos de carne. Despejar os bolinhos de carne na panela com as cebolas fritas e acrescentar o alho amassado com o sal e as sementes de coentro. Misturar um pouco para dourar;

5 – Por último, acrescentar os quiabos e duas xícaras de água filtrada, deixando ferver até reduzir o caldo à metade; acrescentar então o suco dos dois limões e deixar ferver novamente (se quiser pode colocar o suco de um limão apenas).

Servir quente ou frio – fica gostoso de qualquer maneira – acompanhado de arroz branco ou cabelo de anjo, como o nosso. Saboreie com gosto, meu neguinho.

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