sábado, 20 abril, 2024

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“Temos na Bahia 3,5 milhões com o esquema vacinal incompleto”

Ao A TARDE, titular da Sesab disse que após “impasse com prefeitura, o governo do estado abrirá policlínicas

A nova secretária de Saúde da Bahia, Adélia Pinheiro, diz ter a dimensão exata do desafio que tem pela frente. Ao todo, são 3,5 milhões de pessoas com o esquema vacinal incompleto. A preocupação é com o surgimento de novas variantes. “Esperamos que a subvariante já identificada não venha a se apresentar como mais uma onda”. Em entrevista exclusiva ao A TARDE, a titular da Sesab disse que após “impasse com prefeitura, o governo do estado abrirá as duas policlínicas construídas em Salvador”. Confira:


Secretária, estamos completando dois anos da pandemia e estamos entrando em uma nova fase da crise de saúde pública. Que avaliação a senhora faz do momento atual?

A avaliação que faço, de fato, de dois anos de pandemia, é que nós passamos por três importantes ondas, com aumentos do número de casos de forma mais crítica. Atualmente estamos saindo da terceira onda, com um número bastante diminuído de casos e de demanda de serviços de assistência hospitalar, seja em leitos clínicos, seja em leitos de UTI, poderia dizer que, mesmo no finalzinho da terceira onda, o Governo do Estado da Bahia, através da Sesab e com estreita colaboração das demais secretarias, manteve desde o início da pandemia, da primeira notícia de ocorrência da pandemia e de chegada de casos no Brasil, o Governo manteve o compromisso de salvar vidas. Dessa forma, ampliou redes de forma aguda por contratação, por instalação de hospitais de campanha, pela utilização de medidas judiciais que ampliaram rapidamente a rede e não deixaram baianos e baianas desassistidos, adoecidos e sem assistência à saúde. Dessa forma, estamos observando a finalização da terceira onda com forte expectativa de que a nova subvariante já identificada não venha a se apresentar entre nós com mais uma onda.

A Bahia deu vários exemplos ao país nesse processo, sobretudo, na questão da imunização da população. Como a senhora avalia a questão da vacinação e qual o diagnóstico das pessoas que não completaram o esquema vacinal?

De fato, é importante dizer que quando o Governo Federal, que é o ente que tem a responsabilidade de análise técnica e aquisição de vacinas, se recusava a reconhecer a vacina como uma ferramenta imprescindível para o enfrentamento à pandemia, o Governo da Bahia se mobilizou intensamente para a aquisição de vacinas, inclusive, se comprometendo com o financiamento, com recursos do Governo do Estado. Fomos sim exemplo para o Brasil enquanto estado, mas também na articulação entre os estados. Quer dizer, na articulação do Governo Estadual, essa liderança assumida pessoalmente pelo governador Rui Costa, mas também pelo secretário de saúde na época, seja Fábio Vilas-Boas, seja Tereza Paim, e por último também comigo, liderando um permanente diálogo com todos os prefeitos desses 417 municípios. Então nesse aspecto, no aspecto da governança e do respeito à estrutura e aos princípios do Sistema Único de Saúde também demos exemplo ao Brasil, demos exemplo com uma estratégia comunicacional inequívoca. O governador, quando falava, falava articulado com o prefeito, era uma fala única; a fala do secretário de saúde do Estado era uma fala única, bem dirigida, voltada para esclarecer, e tendo como base um bom conhecimento. É dessa forma que passados esses primeiros momentos, hoje, já com a garantia da ferramenta da vacina à disposição, nossa Bahia alcançou na população de 12 anos e mais 90% de cobertura vacinal com primeira dose, 83% em números redondos da segunda dose ou dose única e 45% na dose de primeiro reforço. E já temos quase 0,5% de cobertura com a dose de segundo reforço, aquela que já está indicada para a população de maiores de 80 anos, que é uma população mais vulnerável à diminuição da resposta imunológica à vacina. É importante contarmos com o apoio de toda a imprensa para massificar essa importância da vacinação e de diminuirmos, porque ainda temos na Bahia em torno de 3,5 milhões de pessoas com o esquema vacinal incompleto, que não buscaram a primeira, segunda ou dose de reforço, considerando pessoas com 12 anos e mais. E a gente falar disso toda hora, todo tempo, chamando as pessoas, é parte do nosso exercício de cidadania, é parte da defesa do direito à saúde, do Sistema Único, e mais uma vez nosso compromisso de salvar vidas. Mais do que nunca é importante dizer que vacina boa é vacina no braço, e vacina salva vidas. As vacinas salvam vidas.

Secretária, o fim do controle do público em festas e eventos… A gente tem até a confirmação de um carnaval fora de época esse mês. Essa abertura traz uma ameaça de novos retrocessos ou não há essa expectativa?

Veja só. Quanto à limitação de público em eventos, isso não quer dizer que as recomendações sanitárias tenham sidos levantadas. Isso quer dizer sim… Entretanto, permanece importante a atitude do distanciamento social, mesmo em eventos; a recomendação para a utilização de máscaras quando não for possível manter um distanciamento social dentro dos eventos e haja uma permanência de longo tempo entre as pessoas conversando, cantando, bebendo, comendo, e também a higienização das mãos, além de, claro, a insistência, o destaque para a vacina. Então é importante dizer que de fato a quantidade de público em eventos fechados não é passível de controle hoje, que de fato as máscaras podem não ser usadas em ambientes abertos, bem ventilados, onde seja possível preservar distanciamento, e onde não haja longa permanência ao lado de pessoas conversando muito próximo, sem que essas pessoas tenham uma vivência domiciliar e cotidiana. Mas penso que é um legado, e a gente vai falar de legados da pandemia. Os legados da pandemia constituem vitórias da sociedade e vitórias do SUS. O que eu estou chamando de legado? O uso de máscaras. Como inclusive atitude de decisão pessoal. O distanciamento social como uma medida de cortesia e de proteção aos queridos. A higienização das mãos. Todos esses são legados. E a vacina, o uso de vacinas. Esses são legados e são vitórias da sociedade, são vitórias do Sistema Único de Saúde. Toda vez que eu falar no Sistema Único de Saúde estarei falando de direito constitucional à saúde e consequentemente da vida como um direito inalienável da pessoa, o direito de cidadania. Portanto, exercitamos aqui na Bahia exatamente essa defesa à vida.

Como a senhora vê a retirada da obrigatoriedade das máscaras em locais abertos e quando será liberado em locais fechados na Bahia?

Eu entendo que alguns elementos são bastante importantes para falar disso, para falar a respeito da liberação do uso de máscaras. Eu vou voltar a falar de grupos populacionais vulneráveis ao agravo de COVID, o grupo populacional acima de 80 anos, imunocomprometidos e pessoas com comorbidades são grupos mais vulneráveis, e que o adoecimento por COVID-19 impõe um risco bastante aumentado de desfecho fatal. Talvez nesses casos, nós precisemos falar sobre decisão pessoal de uso de máscaras em todo momento em que não esteja em convivência domiciliar e entre as pessoas de vivência habitual. É importante enquanto sociedade refletirmos sobre isso e falarmos sobre esse assunto. Ontem eu via um noticiário nacional e ouvia uma entrevistada em um shopping no sul do Brasil e ela dizia assim “aqui está liberado o uso de máscara, entretanto eu me considero protegida usando máscara”. Isso é uma decisão pessoal. Quando liberamos máscaras em ambiente aberto, dizemos “olha, enquanto medida coletiva, podemos não usar. Resta a decisão pessoal, individual”. Porque é possível assegurar que a pessoa sem máscara não adoecerá no cenário atual. Então o levantamento, a flexibilização do uso de máscaras em ambientes fechados deverá levar em consideração um fator que é o número de casos ativos e casos novos. Deve levar em consideração também a vigilância sobre o vírus que é realizada ao redor do mundo e aqui na Bahia também. Deve levar em consideração se há novas variantes circulando e as características que essas novas variantes têm. E também deve levar em consideração a cobertura vacinal. Mas não é uma conta matemática, não há uma conta matemática para dizer que quando eu somo tudo isso eu posso, com segurança, flexibilizar o uso de máscaras em ambientes abertos. Não há uma conta matemática. É um conjunto de observações que vão nos levando para uma conclusão. Mas é óbvio que nós temos e lidamos no momento na Bahia com uma boa notícia: nós estamos no caminho certo no que diz respeito ao enfrentamento da pandemia de COVID-19. As medidas que foram tomadas ao longo desses dois anos, foram as melhores medidas e não à toa, logo no início falamos que somos referência, inspiramos outras autoridades sanitárias e outros governadores a também atuar de forma decisiva no enfrentamento à pandemia. Então a boa notícia é que nós temos uma taxa de mortalidade que desde o início da pandemia e até agora é a segunda menor taxa do Brasil. Nós temos nos últimos dois meses uma taxa de letalidade que é menor do que 1% e isso também é uma referência. Mas nós não nos conformamos com a ocorrência da pandemia, com o adoecimento, e perdas entre nós. E também nós entendemos que ao vivenciarmos a pandemia de COVID-19, salvamos muitas vidas com uma assistência adequada, capilarizada em todo o interior da Bahia, com diminuição dos espaços necessários de transporte, de deslocamento de pacientes a grandes distâncias, temos o legado desse investimento feito com aumento do número de leitos de UTI no interior da Bahia e também na capital, mais um legado, mas também temos a certeza de que a COVID-19 não é uma doença simples, é uma doença que deixa nossa população, pessoas que têm uma diminuição da qualidade de vida e que também precisarão ser assistidas no curso da reabilitação. E sobre isso também estamos atentos e estruturando nosso serviço de saúde.

Com a pandemia, muitas comorbidades deixaram de ser tratadas pela população. Esse é um problema que preocupa a saúde hoje?

Preocupa sim, e é muito importante falarmos disso. Agora em maio nós começamos um mutirão de cirurgias eletivas, inicialmente com foco mais concentrado em mulheres, mas não exclusivamente. O Governo do Estado, através da Sesab, faz um investimento de R$183 milhões em cirurgias eletivas no mutirão de cirurgias eletivas para atender um quantitativo de 79 mil cirurgias em 120 dias. Para isso, nós estamos ampliando nossa rede de credenciamento, quer dizer, de unidades hospitalares que aderem a esse objetivo nosso, e também aumentando a capacidade instalada de nossos hospitais de rede própria para atender a esse quantitativo de cirurgias. Toda a rede de saúde pública e privada do estado da Bahia foi chamada a colaborar com esse grande desafio. E esse número de pessoas que têm a necessidade de realização de cirurgias eletivas se deu porque houve o adiamento dessas cirurgias em razão da pandemia de COVID-19. Antes disso, a assistência à saúde, as cirurgias eletivas se davam de forma cotidiana em nossa rede e na rede contratada. Mas é sim um reconhecimento nosso, da Sesab e do governador Rui Costa que precisamos enfrentar essas cirurgias eletivas que foram adiadas e é isso que estamos fazendo.

Secretária, a regulação é pauta constante de críticas por parte da oposição. Qual o maior gargalo da saúde pública hoje na Bahia e como resolver o problema da regulação?

A regulação é uma ação de saúde complexa e é importante comunicar isso. Estou absolutamente e permaneço sensibilizada com a necessidade de ajustar, diminuindo o tempo de espera para a regulação, aumentando a capacidade de identificação da gravidade, dos riscos envolvidos em cada uma das demandas de regulação e ajustando o tempo de atendimento a essa questão e também ampliando a rede. Eu devo dizer que, por exemplo, tínhamos até pouco tempo três principais demandas de saúde envolvidas em um maior tempo de permanência na regulação: demandas vasculares, oncohematologia e também uma preocupação que envolve a UTI pediátrica. Sobre esse assunto, investimos fortemente na capacidade de atendimento às demandas vasculares, já diminuímos muito o tempo de espera com a abertura do Hospital Afrânio Peixoto em Vitória da Conquista, que desde que foi entregue agora em meados de março, tem sido operado de forma dedicada a atenção às cirurgias vasculares, diminuindo, portanto, esse tempo de espera na fila de regulação. A oncohematologia é uma situação que nós temos enfrentado com muito foco, que não envolve um grande número de pessoas, entretanto é uma demanda de muita sensibilidade e tem um pequeno número de profissionais. A ampliação dos serviços para atender pacientes é restrita na Bahia, tanto do público quanto do privado, portanto envolve um planejamento específico, temos feito isso permanentemente, ampliando a rede de oferta de serviços de oncohematologia. Devemos entregar em 70 dias toda uma ala no Hospital Geral Roberto Santos voltado para oncohematologia, em outras unidades do interior estudos arquitetônicos estão sendo feitos para ampliar, lá em Vitória da Conquista serão 12 leitos voltados à oncohematologia, mas a preocupação da disponibilidade de recursos humanos, o número de especialistas nessa área é pequeno. Também eu preciso destacar que no que diz respeito à regulação essa comunicação é muito importante. Em 2021, a regulação recebeu 308 mil demandas, atendeu 208 mil demandas com uma média de atendimento de 48 horas, sendo que os casos com grande risco e classificados como de alto risco, o atendimento é em menos de 24 horas, seguindo todos os protocolos que são estabelecidos para o sistema de regulação. Entretanto, é necessário entender que esse processo é um processo de melhoria contínua, nós precisamos reduzir ainda mais o tempo de espera, e aumentar mais ainda a oportunidade de atendimento à demanda. Estamos investindo em telemedicina, ou seja, o auxílio às unidades em que os pacientes que vão para a regulação estão sendo assistidos, contando com especialistas em bancada à distância orientando os médicos assistentes, com ampliação da rede, como eu já mencionei. Essa ampliação da rede nos últimos 7 anos responde por mais de 1.600 leitos entregues pelo governador Rui Costa à nossa população. E o investimento que somente em 2021 deu conta de 7,8 bilhões de reais. Então todo esse investimento amplia a oferta, amplia oportunidade de atuar atendendo as necessidades que estão na regulação, mas que também estão em outras formas de atendimento realizados.

Secretária, o governo já concluiu 21 policlínicas na Bahia, mas as policlínicas de Salvador estão prontas há 10 meses e estão fechadas. Qual o motivo?

Efetivamente, quando as policlínicas de Salvador foram planejadas, elas foram planejadas para a gestão municipal integral e financiamento também integral pelo município. Entretanto, o município propôs um financiamento bipartite, entrando o município com 60% e o estado com 40%. Entretanto, somente os municípios de Salvador seriam atendidos nessas duas policlínicas. Isso foge do modelo dessas 21 policlínicas espalhadas no estado da Bahia, o modelo de funcionamento das policlínicas é através de consórcios interfederativos de saúde, cada policlínica tem o seu consórcio, o prefeito é o presidente desse consórcio, o financiamento é 60% rateado entre todos os municípios que compõem o consórcio e 40% pelo estado, cabendo a cada município as suas cotas de exames e consultas especializadas de acordo com o quantitativo de sua população e de acordo com o rateio do financiamento. Então a expectativa é que essas policlínicas também fizessem parte do consórcio interfederativo na região metropolitana, o que não aconteceu, não houve adesão do município de Salvador, e também não havendo a possibilidade de outros municípios utilizarem aquela ferramenta, então não há por que o estado fazer o financiamento em 40%. De qualquer sorte, considerando que não foi possível avançar nessa estruturação, nós colocaremos duas em funcionamento no mês de maio atendendo a população e fazendo todo o apoio ao atendimento e ao mutirão de cirurgias eletivas de baianos e baianas.

Para finalizar, secretária, qual o maior desafio da senhora à frente da secretaria? A senhora que estava em outra pasta, a de Ciência e Tecnologia, e agora na Saúde?

Um importante desafio é efetivamente seguir fazendo um enfrentamento de qualidade à pandemia de COVID-19 que não acabou, portanto, seguir no firme propósito de salvar vidas. Um segundo desafio que eu considero bastante importante é ter toda a rede de assistência sob gestão direta e indireta do sistema estadual de saúde vinculado ao estado dedicada ao atendimento aos agravos e necessidades de saúde da nossa população e ampliando toda a incorporação de tecnologias como temos feito, ampliando a incorporação de tecnologias e agregando qualidade ao serviço do estado e aumentando a qualidade de vida de baianos e baianas. Seguir, portanto, ampliando nossa rede de assistência, nós temos mais 5 hospitais pra entregar ao longo desse ano, mais 5 policlínicas que serão entregues incluindo as duas de Salvador já mencionadas, as demais também, de Ilhéus, Santa Maria da Vitória, São Francisco do Conde. Retomar a reforma para o Centro de Anemia Falciforme, que é uma boa notícia que darei na próxima semana, ampliando a rede e tornando para baianos e baianas serviços de saúde de qualidade, defendendo e construindo o SUS e o direito à saúde.

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